Com bolsa integral na Technological University of the Shannon (TUS), em Westmeath, Mariana Jucá, 21 anos, dedica-se a soluções inovadoras ...
Com bolsa integral na Technological University of the Shannon (TUS), em Westmeath, Mariana Jucá, 21 anos, dedica-se a soluções inovadoras para a resistência antimicrobiana em casos de sepse. Caso raro, sua aprovação na seleção não exigiu mestrado
Aos 21 anos, a estudante de Brasília, Mariana Jucá, está vivendo uma das experiências mais transformadoras de sua vida. Recém-formada em biomedicina pela Universidade Católica de Brasília (UCB), ela iniciou seus estudos de doutorado na Technological University of the Shannon (TUS), em Athlone, cidade do condado de Westmeath, na Irlanda. Sua pesquisa, focada em soluções inovadoras para a resistência antimicrobiana, é uma esperança no combate a um dos desafios da saúde pública global.
Mariana está desenvolvendo a pesquisa intitulada Mesenchymal Stem Cell-derived Antimicrobial Peptides for Antimicrobial Resistance (Peptídeos antimicrobianos derivados de células-tronco mesenquimais para resistência antimicrobiana). Sob a orientação de renomados pesquisadores europeus, seu trabalho busca explorar novas abordagens terapêuticas para combater a resistência antimicrobiana durante casos de sepse — manifestações no organismo causadas por infecção.
Vocação
Desde os tempos de ensino médio, Mariana demonstrava uma certa inclinação para a ciência. "Tive uma professora de química que me inspirou profundamente, e fez eu me apaixonar pela área da saúde. No entanto, ao contrário de muitos que se encantam pelo contato humano típico da medicina, eu me sentia mais atraída pelos bastidores, pelo ambiente de laboratório e pela oportunidade de descobrir algo novo", conta. Essa curiosidade a levou a escolher biomedicina como curso de graduação e, logo no 4º semestre, encontrou em Robert Edward Pogue, seu professor de genética, uma influência decisiva.
"Embora eu já soubesse que queria seguir a área acadêmica, o que realmente me inspirou foi o exemplo do professor Robert. Ele demonstrou o impacto positivo que um orientador pode ter na vida de um estudante, e isso consolidou minha vontade de causar esse mesmo impacto no futuro", descreve Mariana. O professor foi além de uma abordagem teórica, incentivando seus alunos a participarem de grupos de pesquisa e se engajarem em projetos científicos. Foi ele quem orientou Mariana durante a iniciação científica, um período crucial em sua formação.
Processo seletivo
Nos últimos anos da graduação, a estudante deu um importante passo ao participar de uma palestra da coordenadora do curso de biomedicina da UCB, Fabiana Nunes, sobre a relevância da participação em atividades acadêmicas. "Desde a coordenação do curso, com a professora Fabiana Nunes, até as aulas e orientação do professor Robert Pogue, cada experiência contribuiu para minha formação", lembra Mariana. Entre os desafios e aprendizados, Mariana participou do Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência (Pibid) com projeto de bioinformática, e acompanhou pesquisadores em laboratórios da UCB por meses.
Ao final do ano passado, ela foi aprovada no mestrado na UCB, mas sempre de olho em novas oportunidades. Foi em um grupo de WhatsApp de pesquisadores de laboratório da UCB que Mariana encontrou a oportunidade que mudaria sua trajetória. Uma vaga de doutorado na Irlanda foi compartilhada pelo professor Robert, e ela, motivada pela ideia de ingressar diretamente no doutorado, iniciou o processo seletivo. "Antes da inscrição, eu não sabia que era possível ingressar no doutorado sem o mestrado, algo raro no Brasil, mas comum na Irlanda", revela.
Desafios
A jornada para conquistar a vaga na universidade da Irlanda incluiu análise curricular, uma apresentação em inglês, em até cinco minutos, sobre uma proposta de intervenção relacionada ao projeto, seguida por uma arguição da banca avaliadora. "O maior desafio foi apresentar termos científicos em inglês e compreender o sotaque irlandês durante a arguição", admite Mariana. O esforço valeu a pena: ela foi aprovada e garantiu uma bolsa integral financiada pelo programa Tu Rise, cofinanciado pelo governo da Irlanda e pela União Europeia.
Para a doutoranda, o processo seletivo envolveu mais do que habilidades técnicas, e a ajuda do seu professor foi essencial. "Sendo irlandês, o professor Robert desenvolveu mais o pensamento criativo. Nós, brasileiros, tentamos várias alternativas para conseguir. E acho que a minha maneira de pensar, mais genuína, de uma ideia minha, colaborou para que eu fosse selecionada", acredita.
Adaptação
Mariana ressalta que, ao chegar lá, ficou surpresa com a estrutura da universidade e com a "quantidade e a acessibilidade de recursos disponíveis para os alunos". Ela diz que essa infraestrutura oferecida na Irlanda incentiva a inovação e a implementação de novas ideias, e que tem ajudado Mariana em sua pesquisa.
"A convivência tem sido extremamente enriquecedora. Trabalhar com pesquisadores de diferentes nacionalidades amplia horizontes e proporciona uma troca de ideias única. A diversidade de pensamentos e abordagens é, sem dúvida, uma das grandes vantagens do ambiente acadêmico internacional", diz Mariana. Sobre a adaptação cultural, ela destaca que os irlandeses são mais diretos em suas interações, algo que considera uma diferença marcante em relação ao Brasil.
A estudante também aponta que o pouco tempo que está na Europa — dois meses — já é o suficiente para perceber o crescimento como pesquisadora. "A experiência aqui mudou a minha mente como pesquisadora. As técnicas de mexer nas máquinas, em si, não são tão difíceis, mas exigem senso crítico. Além disso, aqui tem muitos estrangeiros, convivo com a diversidade", explica.
Orientação
Para o professor Robert, ver uma ex-aluna conquistar reconhecimento internacional é motivo de orgulho. "Uma colega minha de lá entrou em contato, dizendo que estava buscando bons candidatos para uma bolsa de doutorado, e imediatamente eu indiquei a Mariana. Embora a Mariana não tivesse o mestrado, ela ganhou a bolsa mesmo com os outros candidatos que tinham o curso. Acredito que sua inteligência, entusiasmo e energia foram diferenciais", conta.
O educador foi fundamental na indicação e preparação de Mariana para o doutorado na TUS e acredita que sua motivação a destacou entre os demais candidatos. "Ela sempre foi muito motivada e mostrou iniciativa nas suas contribuições para as pesquisas. Até quando ela foi passar um período nos Estados Unidos, ela continuou trabalhando no seu projeto conosco, reunindo-se comigo regularmente para planejar e escrever um artigo de pesquisa", detalha Robert.
Inspiração
Mariana reflete sobre sua experiência na UCB e se lembra de outros profissionais que a ajudaram durante sua trajetória. "O aprendizado prático nos estágios obrigatórios com bons profissionais, como João, no Hospital de Base, e Claudiner, no Hospital de Apoio, foi determinante para me preparar para desafios futuros."
Sobre o futuro, Mariana ainda não tem planos definidos. "Ainda é cedo para tomar uma decisão definitiva, mas acredito que seguir no exterior seria uma oportunidade interessante para expandir minha experiência acadêmica e contribuir, de forma significativa, para a ciência global", reflete.
Para estudantes brasileiros que sonham com uma trajetória semelhante, ela deixa um conselho: "Crie uma rede de apoio no Brasil que possa orientar e auxiliar nesse processo. Muitas oportunidades no exterior não são amplamente divulgadas, e conexões com pessoas que conhecem essas possibilidades podem fazer toda a diferença."
Com informações do CB
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