Pesquisa classifica esses bebês, nascidos com menos de 37 semanas de gestação, em três perfis neurocognitivos distintos a partir do desenv...
Pesquisa classifica esses bebês, nascidos com menos de 37 semanas de gestação, em três perfis neurocognitivos distintos a partir do desenvolvimento de aprendizagem e da memória, além do comportamento
Segundo a Organização Mundial da Saúde, 13 milhões de bebês nasceram antes de completar 37 semanas - cerca de 10% dos partos no mundo, em 2023. Frequentemente essa condição está associada a desafios significativos no desenvolvimento cognitivo e comportamental.
Ao analisar dados de 1.891 nascidos prematuros, com idades entre 9 e 11 anos, os cientistas identificaram um primeiro perfil, composto por 19,7% dos participantes, que se destacou com desempenho acima da média até mesmo para crianças a termo, nascidas no "tempo certo" — de 37 a 41 semanas. Essa classe obteve resultados superiores em testes cognitivos padrão e mostrou menos déficits de atenção.
O segundo perfil, para o qual foram classificadas 41% das crianças, revelou um desempenho misto. Essas participantes apresentaram pontuações acima da média em alguns testes, como memória e vocabulário, mas pontuaram abaixo do esperado em outros, como reconhecimento de padrões e memória de trabalho.
O terceiro grupo, que englobou 39,3% das crianças, mostrou um desempenho consistentemente abaixo da média em todos os testes avaliados. Esse grupo apresentou deficits cognitivos que corresponderam a problemas de atenção e notas acadêmicas menores.
Desafios cognitivos
Segundo a equipe, essas descobertas são significativas porque demonstram que nem todas as pessoas que nasceram prematuras enfrentam os mesmos desafios no desenvolvimento.
As análises revelaram ainda que as crianças do perfil 1 tiveram uma média 21% melhor em testes cognitivos do que aquelas no perfil 3. Além disso, apenas 2,5% dos participantes do grupo 1 exibiram deficits de atenção, em contraste com 9,9% no 3.
Tatiana Mota, pediatra da Clínica Mantelli, em São Paulo, sublinha que crianças prematuras podem apresentar intercorrências durante o crescimento e desenvolvimento, capazes de gerar sequelas neurológicas.
"Os principais sinais a serem observados são os marcos de desenvolvimento neuropsicomotor, sempre considerando a idade gestacional corrigida. Deve-se classificar esses bebês por grupos porque sabemos que a probabilidade de sequelas e a necessidade de maiores intervenções são inversamente proporcionais à idade gestacional em que essas crianças nascem."
Para Eliane Cêspedes, pediatra em Brasília, o estudo dissipa a noção de que "toda criança prematura nasce com déficits cognitivos e comportamentais. A identificação precoce de cada perfil permite um atendimento individualizado, personalizado, a cada criança, melhorando seu prognóstico em todos os aspectos sociocognitivos."
No âmbito acadêmico, 66,47% das crianças no perfil 1 alcançaram notas médias entre 9 e 10, comparadas a 32,21% no grupo 3.
Volume cerebral
O estudo também abordou diferenças no volume cerebral. A neuroimagem revelou que participantes do perfil 3 tinham cérebros, em média, 3% menores em volume e área de superfície de matéria cinzenta em comparação com quem foi classificado para o grupo 1. Embora as crianças no perfil 3 tenham nascido, em média, 4,5 dias mais cedo, o volume cerebral menor não estava diretamente associado à prematuridade.
O estudo sugere investigar mais a fundo como as diferenças no volume cerebral podem estar relacionadas aos resultados variáveis entre os perfis.
Outro ponto relevante é a desigualdade racial. As análises indicaram que crianças prematuras negras tinham quase quatro vezes mais chances de se enquadrar no perfil de baixo desempenho, o 3.
A principal autora do estudo, Iris Menu, e a coautora Moriah Thomason, destacaram a necessidade urgente de intervenções sociais e estruturais para garantir cuidados equitativos para todas as crianças prematuras. Menu observou que bebês em lares mais abastados, onde o acesso a terapias e cuidados é mais frequente, tendem a obter melhores resultados, enquanto a cobertura de seguro saúde e outros fatores socioeconômicos também desempenham um papel crucial.
O neuropediatra José Marcos Vieira, do Hospital Sírio Libanês, frisa que a desigualdade no tratamento de prematuros é muito comum no cenário brasileiro. "Temos crianças que têm acesso a terapias por muitas horas semanais, com diversos profissionais capacitados, até pessoas que mal têm acesso a um médico para indicar a terapia, quanto mais para conseguir a terapia em si. As condições socioeconômicas influenciam muito no desenvolvimento, tanto nas crianças que apresentam transtornos de neurodesenvolvimento quanto naquelas que não os têm." A próxima etapa da pesquisa pretende investigar fatores comuns entre as crianças que tiveram um desempenho ruim e questões que contribuíram para o sucesso de 20% das crianças prematuras no perfil 1.
Com informações do CB
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