Depois de passarem anos na prisão, serem submetidos a tortura e fugirem para o exílio, opositores de Nicolás Maduro veem com otimismo a po...
Depois de passarem anos na prisão, serem submetidos a tortura e fugirem para o exílio, opositores de Nicolás Maduro veem com otimismo a possibilidade de mudança do regime. Jovem cego após perder os olhos em protesto fala ao Correio
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"Este governo causou toda a pobreza em meu país. É culpa dele que não tenhamos gasolina, que pessoas morram nos hospitais e que existam tantos presos políticos apenas por se expressarem. Na Venezuela, você tem que se calar; caso contrário, começa uma intimidação e ameaçam sua família", desabafou Chacón.
Ele reconhece que a votação ocorrerá em clima de muita tensão. "É um governo enganador. Eles buscarão preparar armadilhas, mas há muita fé no futuro e confiança em María Corina Machado. Nosso povo tem que sair, defender o voto e apoiar a causa da liberdade", disse, por telefone, ao citar a ex-deputada opositora que avalizou o ex-diplomata Edmundo González Urrutia, 74, como o candidato da Plataforma Unitária Democrática para derrotar Maduro.
De acordo com Chacón, o governo de Maduro "destruiu" o país. "Não temos energia entre 9 e 12 horas por dia; falta água; a saúde está caótica por falta de recursos. A Venezuela se encontra em um círculo de pobreza forte. Mas a mudança se aproxima e, com ela, um tempo de prosperidade."
Tentativa de fraude
Delson Guarante acredita que todo o poder do Estado — as Forças Armadas, o Tribunal Supremo de Justiça e o Poder Eleitoral — acoberta os preparativos para uma fraude amanhã. "O que ocorrerá na Venezuela, neste 28 de julho, com força da cidadania, deterá os delinquentes que pretendem roubar as eleições. O povo sairá às ruas e defenderá cada voto em cada canto do país", avisou. Preso político no Helicoide, não pôde ter acesso a advogados. "Fui um prefeito que derrotou o candidato de Maduro. Mataram meu irmão e meu sobrinho para que eu desistisse da disputa eleitoral."
Guarante relatou que, no Helicoide, foi colocado na solitária. "Não pude ver o sol nem a noite. Fui espancado, ameaçado de morte e privado de comida. A única coisa que eu escutava era a voz do ex-presidente Hugo Chávez no som ambiente. Falavam que matariam minha família. Foi um terror imenso."
Por sua vez, Alemán aposta que o povo venezuelano está decidido a empreender uma mudança. "Estamos cansados e dispostos a defender voto a voto. Domingo (amanhã) será um dia histórico, o mais importante do século", garantiu. Para ele, a vantagem de Edmundo para Maduro é "abismal". "São mais de 30 pontos percentuais de diferença nas pesquisas. O governo tentará trapacear, mas a diferença é tão grande que será impossível uma vitória do regime", comentou. "Veremos o começo de uma transição."
Ao ser questionado sobre se pensa em retornar à Venezuela, caso Edmundo seja eleito, Alemán respondeu: "Todos os dias, quando me levanto, a primeira coisa que faço é, mentalmente, estar em minha amada terra". "O maior anseio que tenho é voltar à minha terra; espero que depois de domingo eu possa fazer isso." Ex-membro do movimento estudantil e do partido Voluntad Popular, ele foi submetido, na prisão, a choques elétricos e à privação de sono. "Colocavam um saco preto sobre a minha cabeça para me asfixiar. Era jogado em um calabouço por 24 horas, com a luz acesa. Não sabia se era dia ou noite."
O advogado constitucionalista venezuelano Juan Manuel Raffalli confirmou que as pesquisas apontam uma "enorme" diferença entre González Urrutia e Maduro. "Isso coloca o presidente ante a possibilidade de fazer uma fraude massiva e ser rejeitado pelo mundo inteiro. A oposição fiscalizará o processo. A escolha mais inteligente para Maduro seria entrar em contato com o adversário e iniciar um processo de transição ordenada. Ele se manteria politicamente vivo para as eleições regionais e para tentar voltar ao poder", explicou ao Correio.
Fronteiras fechadas
A dois dias das eleições, as autoridades venezuelanas fecharam as fronteiras com a Colômbia e o Brasil. As passagens estarão interrompidas até as 8h de segunda-feira (9h em Brasília). A decisão foi tomada pelo Ministério da Defesa do regime de Maduro para "resguardar a inviolabilidade das fronteiras e prevenir atividades de pessoas que possam representar ameaças à segurança da República Bolivariana da Venezuela", segundo comunicado.
TRÊS PERGUNTAS PARA...
Rufo Chacón, 21 anos, vítima de disparos de armas de chumbinho por parte de um policial, em San Cristíval (Táchira)
Como você se tornou vítima do regime de Nicolás Maduro?
Naquele 2 de julho de 2019, estávamos sem gás para cozinhar. Disseram-nos que teríamos de ir a um local de concentração e aguardar, com botijões vazios. A polícia chegou e começou a fazer um cordão de isolamento. Eu fui o primeiro a receber um disparo no rosto. Foi uma dor imensa. Senti a face queimar. Saí correndo e levei as mãos aos olhos. Não podia enxergar. Foi quando um olho caiu em minha mão. Não pude nem chorar. Foi um momento muito forte. Colocaram-me sobre uma moto e me levaram até o hospital. Como não havia analgésico, tive que ser amarrado à maca, tamanha a dor. Então, me dei conta de que havia perdido os dois olhos. No olho esquerdo, entraram oito balas de chumbo; no direito, quatro.
Você culpa o presidente por ter lhe tomado a visão?
O governo é culpado por tudo.
Caso Maduro perca amanhã, pensa em regressar à Venezuela?
Sim, eu voltarei à Venezuela, assim que o governo cair. Muitos venezuelanos farão o mesmo. Para mim, a Venezuela é minha terra, minha raiz, minha cultura. É uma parte de mim. (RC)
Com informações do CB
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