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Número de queimados no Hran aumenta 35%; negligência está entre as causas

  Até abril deste ano, o Hran, referência no tratamento de queimados, atendeu a mais de mil vítimas. Descuido, negligência, desinformação e ...

 


Até abril deste ano, o Hran, referência no tratamento de queimados, atendeu a mais de mil vítimas. Descuido, negligência, desinformação e empobrecimento da população estão entre as causas de queimaduras

A autônoma Vania Gonçalves, 56 anos, teve 18% do corpo queimado após ser atingida por uma explosão, enquanto fazia sabão caseiro no tanque de casa. O acidente resultou em ferimentos no rosto, pescoço, tórax e braços, além de obrigá-la a passar por mais de cinco cirurgias na Unidade de Queimados, do Hospital Regional da Asa Norte (Hran), referência no atendimento a vítimas de queimaduras no Distrito Federal. 

Mais comuns do que se imagina, essas situações ocorrem, majoritariamente, em ambientes domésticos. E fica o alerta: os números têm aumentado. De 2020 a 2023, os atendimentos no pronto-socorro do hospital subiram 35%. Até abril deste ano, foram notificados, 1.041 casos de queimadura, média de oito por dia. 

No último mês, o Correio visitou a Unidade de Queimados do Hran, que ocupa todo o terceiro andar do edifício, e presenciou atendimentos no pronto-socorro e no ambulatório. Chamou atenção a quantidade de pacientes com diferentes partes do corpo enfaixadas — em alguns casos, o corpo inteiro — que aguardavam pela troca de curativos. Em uma das cenas mais impactantes, a reportagem testemunhou o "banho", procedimento de limpeza das feridas realizado antes das cirurgias e que, por ser extremamente dolorido, precisa ser feito com sedação. 

O Hran se consolidou como referência nesse tipo de atendimento ao longo do tempo. Foi nessa unidade, por exemplo, que, há 35 anos, meses após a inauguração, atendeu a quase todas as vítimas de uma colisão entre dois caminhões, que resultou em mais de 40 mortes, no atual viaduto Ayrton Senna. Segundo Ricardo de Lauro, cirurgião plástico e chefe da unidade, o diferencial do Hran está na equipe multiprofissional, que contempla, além de médicos e profissionais da enfermagem, fisioterapeutas, psicólogos, nutricionistas e assistentes sociais. Esses últimos, para lidarem com casos de violência ou negligência.

Vania sofreu os ferimentos em 2019. Ficou 34 dias internada na unidade e, por dois anos, fez fisioterapia para recuperar o movimento das áreas queimadas. A moradora do Jardim Ingá conta que uma das principais preocupações, durante o tratamento, foi com a sua aparência.

Diante da sua recuperação, as consultas no hospital tornaram-se anuais, mas as visitas à equipe que lhe atendeu são frequentes. "Fui muito bem cuidada e sou grata a todos que tiveram tanto carinho comigo. Gosto de ir à unidade levar alguns pães de mel e dar abraços no pessoal", diz.

  • Unidade de Queimados do Hran fez mais de 9 mil atendimentos em 2020
  • Hran: unidade de queimados tem queda nas consultas de emergência
  • Número de queimados cresce 50% no DF e preocupa especialistas
  • Empobrecimento

    Para Ricardo de Lauro, o aumento de atendimentos reflete o crescimento da população e o maior movimento de pacientes do Entorno. No entanto, ele avalia que a quantidade de queimaduras, em números relativos, também se elevou. "Creio que pelo descuido, negligência, desinformação e empobrecimento da população, as pessoas estão se queimando mais, especialmente após a pandemia", detalha. 

  • "Quando o preço do gás aumenta, por exemplo, as pessoas começam a cozinhar com líquidos inflamáveis. É um perigo", alerta. A maioria das queimaduras é causada por líquidos quentes ou vapor; substâncias químicas, como produtos de limpeza e de indústrias; e pelo contato direto com fogo, inflamáveis ou correntes elétricas. "Quase sempre são acidentes evitáveis", reforça o especialista. 

    Além de ambientes domésticos, as queimaduras também são frequentes em trabalhadores da construção civil e de restaurantes — esses últimos, pelo manuseio equivocado de fogareiros de metal, usados para manter a comida aquecida.

    Reinserção

    O objetivo final do tratamento das queimaduras é fechar a ferida — por via de cicatrização própria ou com cirurgias. "É uma corrida contra o tempo, pois, quanto mais rápido fechar (a ferida), melhor em termos de sequelas e sobrevivência", explica o chefe da unidade. O resultado, de acordo com Ricardo de Lauro, depende do paciente enxergar um 'novo eu', além de poder contar com uma rede de apoio. "Assim como os transtornos psiquiátricos, as queimaduras causam aflições não apenas nos pacientes, que têm dificuldades de reinserção social, mas também na família", explica.

    Das tantas histórias de superação que o médico presenciou, a do produtor rural Ricardo Amorim, 37, foi uma das que mais o marcou. Em 2022, o então piloto de paramotor — esporte semelhante a pular de paraquedas — fazia um voo, em Formosa (GO), quando uma das peças do motor, fixado em suas costas, entrou em chamas. Ele teve 50% do corpo queimado e inúmeras queimaduras de terceiro grau, condição cuja taxa de mortalidade chega a 95%. 

  • Durante três meses de internação na Unidade dos Queimados, Ricardo Amorim foi submetido a 19 cirurgias, que incluíam a raspagem das áreas atingidas e o enxerto de pele. "Passei de tudo um pouco. Vi pacientes com casos mais brandos que o meu morrerem, fiz sessões diárias de fisioterapia, tive uma crise de bacteremia e até covid-19", recorda. 

    A recuperação veio da persistência, do intenso tratamento e do apoio da família. "Amigos e familiares, em especial minha esposa, revezavam-se para me ajudar de diferentes formas. Isso foi fundamental. Aos profissionais do Hran, devo minha vida", agradece.

    Incêndios e choques

    A quantidade de incêndios no DF também aumentou em 2023. No primeiro semestre do ano, foi registrado um aumento de quase 15% em relação ao mesmo período de 2022, segundo dados do Corpo de Bombeiros (CBDF). "Algumas causas são o crescimento populacional; o envelhecimento das edificações e o maior poder aquisitivo da população, que permite o uso de tecnologias avançadas, como carros elétricos, aumentando a probabilidade de incêndios. Além disso, a correria do dia a dia costuma deixar as pessoas mais desatentas quanto a cuidados básicos em casa, por exemplo", explica a 2ª tentente Raiana Rodrigues, oficial do Grupamento de Prevenção e Combate a Incêndio Urbano (GPCIU). 

    Em 2016, Lenilza Rodrigues, 31, foi eletrocutada enquanto lavava roupa em casa. O choque ocorreu quando, em um local molhado, encostou em uma extensão que não sabia estar ligada à tomada. "Fui jogada na parede devido à intensidade do choque e acabei cortando minha cabeça. Meu dedo sofreu queimaduras que exigiram mais atenção, como a troca correta de curativos e a fisioterapia, tudo no Hran", recordou a enfermeira.

  • Com informações do CB

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