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Justiça Federal cancela leilão e dá fôlego ao Teatro Dulcina

  O pregão seria realizado amanhã pela Justiça Federal. O espaço passa por uma crise financeira desde a década de 1990 e acumula mais de R$ ...

 


O pregão seria realizado amanhã pela Justiça Federal. O espaço passa por uma crise financeira desde a década de 1990 e acumula mais de R$ 20 milhões em dívidas

Após meses de angústia, foi concedido um instante de alívio para o Teatro Dulcina — o leilão do espaço, marcado para ocorrer amanhã, foi cancelado. O futuro do local, que também abriga a Faculdade Dulcina de Moraes e a sede da Fundação Brasileira de Teatro (FBT), está colocado em risco devido a dívidas que totalizam mais de R$ 20 milhões, fruto de uma crise que se estende desde a década de 1990.

Aos poucos, a situação de instabilidade tem sido revertida pela mais recente gestão da FBT, que assumiu a administração do espaço há cerca de um ano e meio. A notícia de um futuro leiloamento, no entanto, foi recebida pela fundação como uma surpresa, interrompendo os planos previamente estabelecidos pela instituição. "O cancelamento do leilão do Dulcina é um respiro para todos nós, porque agora nós teremos tempo para correr sem essa corda no pescoço", comemora Josuel Jr., diretor cultural da FBT.

A decisão foi tomada pela Justiça Federal na tarde de ontem, após apelos e movimentações das mais diversas áreas. "É uma vitória em que muitos são protagonistas: o Conselho Curador da Fundação, a direção executiva, os advogados, a sociedade que se mobilizou pelas redes sociais, os artistas de Brasília e do Brasil que se manifestaram na internet", lista Josuel. Uma reunião "muito positiva com a fundação", segundo o diretor, realizada com o Secretário da Cultura e Economia Criativa Claudio Abrantes sucedeu a decisão. "O GDF, agora, sabe a importância do Dulcina", celebra.

O Secretário diz-se aliviado e esperançoso com o futuro do Dulcina. "Estávamos todos apreensivos e esse cancelamento nos dará mais tempo para analisar as possibilidades, para trabalhar em união para que nós tenhamos a certeza de que aquele espaço, que é um patrimônio do Distrito Federal e do Brasil, será preservado e manterá sua memória, histórias e seu legado", afirma. Desde a semana passada, o secretário, que também é presidente do Conselho de Defesa do Patrimônio Cultural — Condepac, tem se mobilizado para ajudar na causa. Na terça-feira, ele assinou um manifesto que pedia reconsideração do judiciário com vistas ao cancelamento, suspensão ou adiamento do leilão, para que fosse realizada uma nova perícia nos bens da FBT em busca de uma outra fonte capaz de sanar as dívidas.

O cancelamento do leilão, porém, é só o primeiro passo para a resolução dos problemas do Dulcina. "Obviamente, cancelar o leilão é cancelar este problema neste momento. Mas a mobilização era justamente para impedir o leilão, então funcionou. O objetivo era de urgência e, na urgência, vale a pena usar todas as estratégias", pontua Josuel. "Nós ainda vamos nos reunir internamente para entender quais são os próximos passos. Ainda são muitos desafios e muitos processos pela frente", adianta. Artistas como Fernanda Montenegro estão na luta pela sobrevivência do teatro.

Localizado no Conic, o espaço é pilar essencial do Setor de Diversões Sul. "Se você conversar com os presidentes das associações ali da prefeitura do Conic, todos eles vão dizer "nossa, a gente adoraria ver o Dulcina funcionando novamente". O teatro dá vida para o Conic, de manhã, tarde e noite", assegura Gilberto Rios, presidente da FBT.

Importância cultural

Projeto arquitetônico de Oscar Niemeyer, o Teatro Dulcina é uma das principais casas artísticas da América do Sul e abriga, atualmente, quase um século de acervo fotográfico, textual e cênico do teatro nacional. Inaugurado em 21 de abril de 1980 pela dama do teatro nacional Dulcina de Moraes, o espaço reflete um fiel retrato de um dos principais movimentos culturais do país. "É a síntese da arte do Brasil. Não é só sobre Dulcina de Moraes, não é só sobre uma atriz carioca", aponta Josuel. O arquivo do espaço é responsável por abrigar documentos históricos, como cartas de Monteiro Lobato e articulações de Dulcina com presidentes da república nos anos de censura e ditadura militar. "Tem uma frase de um ator brasiliense, Gê Martú, que eu gosto de repetir. "Podem vender o teatro, podem derrubar o teatro, mas nunca vão derrubar o ensino e o seu legado", finaliza Josuel.

Com informações do C B

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