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Democracia nas Universidades: conheça a nova vice-presidenta da UNE

  Pernambucana e militante do Levante Popular da Juventude, Daiane Araújo fala de desafios futuros do movimento estudantil O 59º Congresso d...

 


Pernambucana e militante do Levante Popular da Juventude, Daiane Araújo fala de desafios futuros do movimento estudantil

O 59º Congresso da União Nacional dos Estudantes (CONUNE), realizado entre os dias 12 a 16 de julho, escolheu a nova diretoria para a gestão 2023-2025 da organização. Daiane Araujo, militante do Levante Popular da Juventude, foi eleita para ocupar a vice-presidência da UNE. 

Natural de Serrita, no interior de Pernambuco, Daiane vem de uma família de agricultores e criadores de gado e ovelha. Durante a infância, mudou de cidade muitas vezes por conta da seca. Até os cinco anos, viveu com a família no Pará, depois eles passaram um ano no interior da Bahia. “Quando voltei para Serrita, foi quando me reconheci pessoa, construí uma identidade”, contou ao Brasil de Fato.

Porém, as mudanças não pararam por aí. O desejo de estudar fez a pernambucana ir cada vez mais longe. 

Agora, como vice-presidenta da UNE, Daiane Araujo diz que as pautas prioritárias de luta serão a permanência estudantil e a democracia dentro das universidade, indispensável para “esse momento de momento de construção de um projeto de nação soberana”. 

Confira a entrevista completa. 

Brasil de Fato DF - Nos conte um pouco da sua história e família. 

Daiane Araujo - Eu sou de Serrita que é uma cidade no interior de Pernambuco, no sertão. Minha família é uma família de agricultores e que sempre tiveram uma relação com o campo, tanto na produção agrícola, plantação de milho e feijão. Mas também muito vinculada à criação de gado e ovelha. Então, ao longo da minha vida, a gente mudou de lugares algumas vezes por conta muito das secas e de como isso se relacionava com o desenvolvimento financeiro da minha família.

Fui morar no Pará, onde morei até os 5 anos. Morei no interior da Bahia por um ano e depois voltei para ser Serrita, que foi quando eu me reconheci pessoa, construí uma identidade.

O ensino fundamental fiz na zona rural. Na época, não tinha creche, nem alfabetização, então eu entrei na escola já direto para a primeira série. No ensino médio, fui para uma escola de referência de Salgueiro, também pública, que ficava numa cidade ao lado. Foi quando eu mudei para morar na cidade, na zona urbana, apesar de ser uma cidade muito pequena, foi nesse momento mais do ensino médio. 

Passei dois anos fazendo pré-vestibular no ensino médio. Mas não consegui entrar no curso que na época estava querendo entrar, que era medicina. Fiz dois anos e meio de pré-vestibular em Juazeiro do Norte, no interior do Ceará.  

Fazer pré-vestibular era uma coisa muito cara. Minha família gastava comigo R$ 900, que era mais do que custava a feira para minha família na época. E aí foi um momento que tanto juntou o momento que a gente estava vivendo na política, mas também com uma seca muito forte. Isso impactou muito a minha família, em 2012 a 2014. A fonte financeira da minha família era a produção de queijo e a venda do leite. Com essa seca, parte do rebanho ligado que meu meu pai tinha morreu de fome e a gente perdeu essa fonte de renda. Foi um momento muito crítico para minha família.

Meu pai se mudou para trabalhar em outro estado, voltou para trabalhar no Pará com criação de gado de outras pessoas, que não era dele, meio que ser vaqueiro. Então, foi um momento que não dava mais para se manter no pré-vestibular.  Aí eu peguei minhas notas do ENEM e foi quando eu entrei na universidade e fui morar em Campina Grande, na Paraíba, para fazer Arquitetura e Urbanismo. 

Brasil de Fato DF - Como é hoje a relação com a sua família?

Daiane Araújo - Minha família mora lá ainda. É muito engraçado, porque como eu saí [de casa] para o ensino médio e depois para o pré-vestibular, eu via minha família mais no final de semana e depois de mês em mês, e meio que fui perdendo o crescimento, por exemplo, das minhas irmãs que eram crianças. E é muito engraçado, porque eu acho que hoje eu tenho um vínculo de pertencimento mais com elas do que talvez tinha antes.

Nesse último período que é o período que eu menos tenho conseguido conviver ou ir em casa, eu acho que foi quando a minha relação de identidade com minha casa, com minha família, com a minha cidade cresceu muito. Para mim, é muito importante quando eu falo ‘porque minha cidade é capital do vaqueiro, o que a gente faz no final de semana é ir para vaquejada’. A gente tem uma relação direta com isso, porque é a nossa cultura  na prática.

Minhas irmãs hoje são também universitárias. Eu tenho uma irmãzinha que é do Levante, minha irmã mais nova, só que num contexto também muito diferente. Minha cidade tem 21 mil habitantes, então o processo de organização política lá também é diferente, se dá muito mais pelas relações pessoais com os agrupamentos políticos do que  por ideias de como as organizações se desenvolvem.

Por exemplo, minhas irmãs eram delegadas mas não conseguiram vir por falta de ônibus lá na região. Mas participaram. A gente tem uma relação tanto afetiva, de comunicação e tal, mas também eu acho dessa tentativa de se conectar nessas outras dimensões assim.

Brasil de Fato DF - Queria que você falasse um pouquinho de como foi essa entrada na faculdade. Vindo do Sertão do Pernambuco, depois Pará, Bahia e Paraíba. Como você conheceu o Levante?

Daiane Araújo - Entrei na universidade em 2015, em um período de greve, que foi aquela greve de 8 meses. Até que o calendário se ajustasse, eu passei um tempo para de fato me mudar para iniciar o curso. Me mudei para Paraíba em 2016, que foi quando comecei o curso. 

Entrei no movimento estudantil da Arquitetura e Urbanismo. No segundo período do curso, foi quando eu comecei a construir o Centro Acadêmico. Daí eu conheci a Federação Nacional dos Estudantes de arquitetura e urbanismo (FeNEA) e foi quando, inclusive, eu acho que me pertenci ao curso, porque foi quando eu identifiquei como construir uma arquitetura que pudesse ser vinculada à realidade mais popular, para o povo, a partir dos debates que a gente fazia de arquitetura mais política. Construí o movimento estudantil da Federação de 2016 até o início de 2019. 

Em 2018, foi quando conheci o Levante. Lá na Paraíba, tem um Memorial das Ligas Camponesas, que é a casa que era de João Pedro e Elizabeth Teixeira. E todo abril tem uma jornada de lutas lá. E o Levante estava chamando para participar dessa atividade no Memorial. Eu fui e fiquei encantada, porque eu já estava assim: ‘eu sou camponesa. Então, onde é que eu me vinculo com esse pessoal?’.

Foi um momento de muito encantamento para mim, tanto de entender quem eram aqueles sujeitos, o Memorial, o que eram as ligas camponesas, quem era Elizabeth Teixeira, aquela velhinha que tava falando coisas lindas. Foi quando eu comecei a participar mais ativamente do Levante. 2018 também foi o ano das eleições, foi quando decidi: ‘sou do Levante, vou construir campanha com o Levante, botar a blusa e tudo mais’. 

Fiquei na Paraíba até janeiro de 2022, que foi quando eu me mudei para São Paulo para a tarefa da executiva da UNE.

Agora, você está na mesa diretora da UNE. Para o Levante, quais devem ser as prioridades da UNE para o próximo período?

Daiane Araújo - Para nós do Levante, a UNE tem um papel importantíssimo na organização da sociedade brasileira, porque organizam com uma parcela importante que é a juventude estudantil, que tem esse potencial mobilizador e organizador da classe trabalhadora.

No próximo período, a gente tem desafios que são gigantes na construção da democracia brasileira, da conquista de direitos. Para nós, fazer esse desafio a partir da realidade das Universidades, mas também da estrutura em que a educação pública brasileira e ensino superior está colocado hoje, é fundamental. 

Acho que entender esse perfil de sujeito que está na Universidade e a realidade brasileira passa necessariamente por pensar quem são os sujeitos que estão na universidade.

Então, uma das pautas que para nós é fundamental que seja prioridade para um próximo período é lutar para que o Plano Nacional de Assistência Estudantil se concretize como uma lei, como uma política nacional e que a gente conquiste financiamento compatível com a realidade dos sujeitos que estão na universidade. Porque sem permanência estudantil, não tem produção científica. Sem esse sujeitos, mulheres pretas, negros, filhos da classe trabalhadora, não tem produção acadêmica e científica que seja voltada para a realidade do povo brasileiro.

:: Políticas para permanência estudantil nas universidades serão pauta do 59º Congresso da UNE ::

Outra pauta prioritária é debater qual a Universidade necessária para esse momento para construção de um projeto de nação soberana.

Para nós, é fundamental também que a UNE tope e construa caravanas, como foi a UNE Volante, para a construção dos debates sobre projeto de universidade.

Para colocar um terceiro elemento, acho que temos falado muito de democracia, de radicalizar a democracia brasileira. E isso também passa pela estrutura das Universidades. Hoje, a gente tem um conjunto de Universidade sob intervenção federal e para nós é fundamental que a gente consiga por fim na lista tríplice e construir o processo de autonomia e democracia dentro das nossas universidades.

Com informações do Brasil de Fato

 



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