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Mulheres contam como realizaram o sonho de serem mães com bebês arco-íris

  Os chamados bebês arco-íris trazem felicidade a mulheres que optaram por ter filhos e, antes de conseguirem, enfrentaram o sofrimento de g...

 


Os chamados bebês arco-íris trazem felicidade a mulheres que optaram por ter filhos e, antes de conseguirem, enfrentaram o sofrimento de gestações mal-sucedidas. O Correio traz duas histórias de superação

Bebês arco-íris são aqueles que nascem após uma ou mais gestações sem sucesso. Representam a luz após a dor e o luto, assim como um arco-íris que surge colorindo o céu após uma tempestade. O Correio conversou com mulheres que escolheram ser mães, mas, antes de realizarem esse sonho, passaram por tentativas frustradas, como aborto e morte neonatal. Hoje, elas celebram a felicidade de terem seus filhos nos braços.

Aline Matheus, 47, conta que seu maior desejo era ser mãe. Aos 33 anos, engravidou de gêmeos, que nasceram prematuros, com 26 semanas. Eles ficaram 15 dias internados em uma unidade de terapia intensiva (UTI), mas não resistiram. "Aquele sonho virou um grande pesadelo", relembra. Esse é o mesmo sentimento de várias mulheres que passam ou passaram por traumas semelhantes. Depois de muito sofrimento, ela se refugiou na terapia e na prática de artesanato.

Aline achava que o remédio para a tristeza era tentar ser mãe novamente, porém, apesar de querer muito, o medo a impedia. Recorreu a médicos, fez exames e escolheu um obstetra especialista em gestação de risco. Nove meses depois, engravidou do João Miguel, hoje com 12 anos. Na época, vivenciou um misto de emoções — culpa por estar tão alegre e medo de experienciar todo o abalo de novo. Mas nada superava a felicidade de sentir João Miguel se mexer dentro da barriga.

"Foi um momento muito feliz da minha vida, e João Miguel é um menino maravilhoso, supercompanheiro. É uma criança que sempre foi atenta ao sentimento do outro. Agora, tenho uma outra filha também, que nasceu um ano e meio depois do João Miguel. Ele cuida da irmã e demonstra um amor por ela que é fora do normal", celebra.

Kethlyn e a filha arco-íris, Mariah.
Kethlyn e a filha arco-íris, Mariah.
(foto: Arquivo pessoal)

Luta contra a angústia

Em 2015, a nutricionista Kethlyn Vieira, 27, gerou um menino, Pietro. Com 17 semanas, após um pequeno sangramento, descobriu que tinha perdido o tão aguardado primeiro filho. Após três anos lutando contra a angústia, Kethlyn engravidou de novo, em 2018, dessa vez, de uma menina, Clarice. Tudo ia bem, até que, ao completar 23 semanas, teve um desconforto e um pequeno sangramento. No hospital, descobriu que Clarice não resistiu. "Perdi meu chão e pensei até que não era da vontade de Deus que eu fosse mãe. O quarto dela estava pronto, e fiquei meses com a porta fechada, sem conseguir entrar", revela.

Após as frustrações, Kethlyn não queria mais tentar. "O medo de tudo acontecer novamente gritava muito alto na minha cabeça, porém, no meu coração, ainda tinha esperança", recorda. Três meses depois, sem nenhum planejamento, engravidou novamente, de uma garotinha, Mariah. Foi recomendado pelo médico que com 12 semanas de gestação ela fizesse uma cerclagem — cirurgia para evitar o parto prematuro. Com 34 semanas, Kethlyn foi ao hospital com contrações — um ponto do procedimento havia se rompido, e ela foi submetida a uma cesariana de emergência. "Não consegui conter o choro, imaginei passar por tudo de novo e sair mais uma vez daquele hospital de mãos vazias", confidencia.

Mariah nasceu em 15 de março de 2019 e, por ser prematura, foi para a UTI. Quatro dias depois, Kethlyn levou Mariah para casa. "Ter a minha filha arco-íris é ver o cuidado de Deus nas nossas vidas, é saber que sou mais forte do que penso e que eu posso muito mais do que imagino. Ter ela ao meu lado me dá forças para enfrentar qualquer obstáculo, não só por ela, mas pelos os irmãos que estão no céu. A Mariah é muito iluminada e ser mãe dela é um verdadeiro privilégio", conclui.

Vencendo a sensação de culpa

A interrupção de uma gestação pode causar muito sofrimento, porque a mulher alia planos à maternidade, conforme explica a psicóloga Francielly Müller. "A perda do bebê leva consigo tudo isso. É a perda fisiológica de uma vida que começou a ser gerada dentro desse útero. É a perda daquela configuração familiar, daquela possibilidade, daquele sonho, que vem inevitavelmente acompanhada do luto, que é vivido por cada mulher a sua própria maneira, mas que deve ser profundamente respeitado", diz Francielly Müller, que também é mãe de um bebê arco-íris.

De acordo com a psicóloga, a sensação de culpa é comum na maioria dos casos. Muitas mães buscam defeitos em si mesmas para justificar o que aconteceu. "É uma expectativa social que se tem sobre as mulheres, que foram feitas para gestar novas vidas. Quando não conseguem, experimentam um sentimento de inadequação. 'Meu corpo é inadequado', 'meu corpo não é capaz de gerar'. A culpa desencadeia muitos adoecimentos psíquicos após uma perda gestacional", destaca.

A psicóloga aconselha que mães nessa situação procurem auxílio. "A mulher deve buscar ajuda quando ela sentir que a sua dor não está sendo legitimada, validada ou ouvida como ela merece que seja ouvida. A gente tem, hoje, grupos de apoio, grupos de mães que tiveram perdas gestacionais, grupos de suporte emocional, e essa ajuda deve ser buscada logo que a mãe perceba que precisa disso, para que esse ciclo seja fechado, para que essa ferida seja tratada com afeto, respeito e para que essa mulher possa seguir a sua vida. É uma marca que vai ficar, mas ela pode parar de doer, pode diminuir. A dor pode ser ressignificada", completa.

Com informações do CB

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