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Vacina da gripe: Brasil precisa melhorar comunicação para recuperar perdas sob Bolsonaro

  Imunização contra a influenza não cumpriu metas em anos anteriores; governo quer alcançar mais de 80 milhões de pessoas Campanha de imuniz...

 

Imunização contra a influenza não cumpriu metas em anos anteriores; governo quer alcançar mais de 80 milhões de pessoas

Campanha de imunização contra a influenza segue até 31 de maio - © Marcelo Camargo/Agência Brasil

O Ministério da Saúde pretende vacinar mais de 81 milhões de pessoas contra a gripe até 31 de maio deste ano. A meta corresponde a 90% do público-alvo e visa interromper uma sequência de resultados insatisfatórios registrados na gestão de Jair Bolsonaro (PL). 

No ano passado, a campanha teve que ser prorrogada porque não havia alcançado nem metade do público-alvo nos meses estabelecidos. Em 2021, a ação durou de abril a setembro e, ainda assim, chegou apenas a 72,1% da meta. 

Também houve prorrogação em 2020, quando apenas 63,5% dos grupos prioritários foram vacinados em um bimestre. Em 2019, o índice havia sido de 80% ao longo de todo o ano. Especialistas ouvidos pelo Brasil de Fato avaliam que a solução para reverter esse cenário está na comunicação.  

:: Campanha nacional de vacinação contra a gripe começa nesta segunda ::

Isabella Ballalai, diretora da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), afirma que a efetividade desse processo depende diretamente da conscientização da população sobre a importância da prevenção e do que a gripe representa para a saúde pública.  

"É muito importante que haja uma comunicação efetiva com a população. Não só sobre estar acontecendo a vacinação, mas principalmente sobre os motivos da vacinação e a segurança da vacina. É preciso haver uma comunicação que responda às dúvidas que as pessoas têm. As pessoas só buscam vacinação quando elas já têm a doença e é preciso entender o que é a influenza entre nós.” 

:: Com a meta de imunizar 8,5 milhões de pessoas, começa a vacinação contra gripe em Minas Gerais ::

Novas práticas

O jornalista Bruno Cesar Dias, doutorando em Saúde Pública na Escola Nacional Sergio Arouca da Fundação Oswaldo Cruz (PPGSP/ENSP/Fiocruz), avalia que é necessário superar o modelo de comunicação historicamente implementado na área.

Segundo ele, o chamado campanhismo - esforço do governo para prevenir doenças por meio de campanhas de vacinação e higiene - é claro, com mensagens delimitadas, determinadas, diretas e generalistas e chamadas para ações. Mas a tática não utiliza todas as ferramentas possíveis, como as redes sociais. 

“Importante salientar que esse modelo campanhista é, em boa parte, uma reprodução do modelo publicitário mais básico e há mais tempo estabelecido, e que guarda relações com uma ideia militar de atuação: frentes de ações, definição de recursos, hierarquias, metas. As ações do Estado e, centralmente, as ações da saúde pública, têm forte ligação com modelos e perspectivas de ação e gestão militares.” 

As mudanças na comunicação trazidas pela internet criam problemas que o modelo tradicional não consegue resolver. Na lista estão as fakes news,  por exemplo. O pesquisador ressalta que a resposta precisa ir além do trabalho feito pelas agências de checagem, mecanismo apresentado pelo mercado frente ao problema.  

Para ele, é preciso fortalecer vínculos sociais e estimular canais de contato, com envolvimento essencial da sociedade civil. O processo tem potencial de ser o início da criação de uma rede de disseminação de boas práticas em saúde e combate à desinformação. 

“O trabalho de comunicação das entidades da sociedade civil desempenha um importante papel no combate ao negacionismo e ao movimento antivacinação. Essas entidades são extremamente capilarizadas e mantém constante diálogo com suas bases sociais. Elas poderiam estabelecer redes de comunicação junto a universidades, entidades e organizações ligadas ao mundo acadêmico”, pontua Dias. 

Retomada

Isabella Ballalai da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm) afirma que é possível retomar o protagonismo brasileiro nos processos de imunizações. Segundo ela, a população confia nas vacinas, embora alguns fatores ainda gerem dúvidas. 

A especialista afirma também que a vacina contra a influenza não está na lista das mais prejudicadas pelo discurso antivacina e negacionista. Ainda assim, Ballalai reafirma a importância da comunicação no processo. 

“Retomando uma conversa e uma comunicação empática com a população, certamente vamos conseguir retomar esse protagonismo. Mas não é só comunicação, também é preciso capacitação das pessoas que trabalham nas salas de vacinação, para evitar oportunidades perdidas. Uma comunicação técnica também simples, para que atinja cada um dos trabalhadores nas salas de vacinação: médicos, enfermeiros, farmacêuticos e todos os envolvidos com a vacinação da população.” 

A vacina contra a gripe já está disponível nos postos para grupos prioritários. Este ano, todos vão receber as doses ao mesmo tempo e não haverá calendário específico para cada público. Na lista estão crianças com idade entre seis meses e seis anos, idosos acima dos 60 anos, povos indígenas, gestantes, puérperas, pessoas com doenças crônicas e com deficiência permanente.  

O público-alvo contempla ainda trabalhadores da saúde, professores das escolas públicas e privadas, profissionais das forças de segurança, salvamento e forças armadas, caminhoneiros, trabalhadores de transporte coletivo, trabalhadores portuários, funcionários do sistema prisional, adolescentes e jovens que estejam sob medidas socioeducativas e a população privada de liberdade.

Com informações do Brasil de Fato

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