Com quatro argentinos encontrados em corte de eucalipto em Nova Petrópolis, região da Serra, e um empregado de fazenda em Santana do Livramento, na Fronteira Oeste, já somam 303 os trabalhadores resgatados de situação semelhante à escravidão no Rio Grande do Sul apenas neste ano. Trata-se de um recorde, já que representa praticamente o dobro dos flagrantes do ano passado, quando 156 trabalhadores foram retirados dessa condição degradante.
Diante de tais números, o Rio Grande do Sul só fica atrás de Goiás – 365 pessoas resgatadas em 2023 – em todo o país. Se no Centro-Oeste, os resgates aconteceram em plantações e usinas de cana-de-açúcar, no Sul a força-tarefa integrada pelos ministérios do Trabalho e Emprego, Público do Trabalho, Público Federal, mais as polícias Federal, Rodoviária Federal e a Defensoria Pública da União, descobriu o quadro mais grave na colheita da uva na Serra, onde 207 trabalhadores foram encontrados em péssimas condições. Em duas lavouras arrozeiras de Uruguaiana, também na Fronteira Oeste, 85 pessoas foram salvas.
Abandonados no mato
Dos quatro estrangeiros descobertos no corte de lenha de eucalipto em Nova Petrópolis, um era menor de idade. Encontrados por agentes da PF, da Brigada Militar e do MTE, moravam em um acampamento no meio do mato sem água potável, luz e banheiro. Receberam socorro após dois deles denunciaram à BM terem sido abandonados sem remuneração e tampouco ter o que comer e onde dormir.
Em Santana do Livramento, um homem de 64 anos trabalhava havia dez anos em uma estância. Sem água potável e sem pagamento regular de salário, cuidava do gado. O quarto que ocupava era usado também para guardar produtos veterinários e lã. Ele bebia água de um poço a céu aberto ao qual vacas e ovelhas também tinham acesso.
Alojamento de trabalhador resgatado também era usado para armazenamento de lã / Foto: Divulgação/MTE
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Maior número em 15 anos
Dados do MTE indicam que, em menos de três meses, o Brasil já resgatou quase mil pessoas de trabalho semelhante à escravidão. Entre 1º de janeiro e 20 de março, foram 918 as vítimas computadas. É outro recorde. Não acontecia algo assim em apenas um trimestre havia mais de 15 anos.
No estado, o flagrante que mais chamou a atenção ocorreu na Serra onde os trabalhadores denunciaram terem sido submetidos a agressões com gás de pimenta e choques elétrico, além de espancamentos. O grupo fora arregimentado pela terceirizada Fênix Serviços Administrativos e Apoio à Gestão de Saúde Ltda. A empresa intermediava a contratação de pessoal para atuar nos parreirais para as vinícolas Garibaldi, Salton e Aurora.
Fonte: BdF Rio Grande do Sul
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