A região administrativa fundada em 1971 tem história marcada pela luta e resistência Ceilândia: nome derivado da “Campanha de Erradicação ...
A região administrativa fundada em 1971 tem história marcada pela luta e resistência
Ceilândia: nome derivado da “Campanha de Erradicação das Invasões” ou simplesmente “CEI”. Fundada em 27 de março de 1971, a região administrativa completa 52 anos. Com sua Caixa d’Água como símbolo, a cidade mais populosa do Distrito Federal influencia com sua cultura, comércio e crescimento.
Vista por muitos com descaso e como um lugar de pouca segurança, principalmente pela influência da cobertura midiática, seus moradores ressaltam sua beleza e importância e celebram seus 52 anos com o desejo de um reconhecimento e uma visibilidade maior.
Para o deputado distrital Max Maciel, esses 52 anos representam mais de meio século de resistência.
“Esses 52 anos representam mais de meio século de resistência. Da Campanha de Erradicação de Invasões (CEI) aos Incansáveis Moradores de Ceilândia, temos deixado um legado de luta e de resiliência. Do forró ao hip hop e da Casa do Cantador à Feira Central de Ceilândia, também carregamos a cultura no nosso DNA. Temos muitos problemas, afinal a lógica do Distrito Federal é a exclusão da periferia do planejamento das cidades e decisões sobre orçamento. Mas a valorização da nossa cidade existe, seja no boné aba reta escrito Ceilândia ou no orgulho de um cidadão ao falar que mora aqui. Afinal, também somos resilientes e mostramos, a partir da cultura, da identidade e do pertencimento, que a quebrada também é potência e cheia de oportunidades”, afirmou.
Já Maria Madalena Tôrres, integrante do Movimento Popular por uma Ceilândia Melhor (Mopocem), relembrou a luta dos trabalhadores no início da fundação da cidade.
“Penso que nesses 52 anos de existência da Ceilândia o grande significado foi a concretização do sonho de moradia própria, porém não de maneira justa. Os trabalhadores que construíram Brasília não puderam ficar próximos aos ricos e numa política de higienização foram "retirados". Ao mudarem para a Ceilândia tiveram que enfrentar muito frio à noite, sol e poeira durante o dia. Quem podia pagar caminhão de transporte para mudança, conseguia lote nas quadras mais ao centro, quem não conseguia tinha que esperar os carros do serviço social. Ouvi demais esses depoimentos de alfabetizadores e alfabetizandos adultos e idosos. As pessoas vieram com o sonho de ter a casa própria, de sair da vida do IAPI, mas muitos sonhavam em permanecer próximo ao Plano Piloto, mas na "política de higienização" queriam limpar os pobres da área dos ricos, os trabalhadores serviram para construir a capital, mas não morar nela”, disse.
Também falando sobre a história da cidade, Antônio de Paduá, coordenador do Jovem de Expressão, afirmou que a luta ainda continua.
“52 de resistência, de luta, lutando para ser reconhecido, onde as primeiras pessoas que passaram por aqui ficaram dez anos sem água encanada, sem energia elétrica, transportadas dos arredores de Brasília, porque não queriam nossos pais, no caso, por lá, que vieram para construir a cidade. E depois de toda a estrutura mínima que a gente conseguiu ser reconhecido como região administrativa. Os 52 anos representam uma história de luta que ainda continua, o legado que a gente leva é de um povo que não fez parte dos sonhos de JK”, afirmou.
E o futuro?
Como desejo para um futuro, o deputado Max Maciel ressalta a valorização da periferia no Distrito Federal.
“Que a Ceilândia seja mais valorizada e colocada, de fato, no centro das decisões, no orçamento e no planejamento das cidades. Que possamos dar mais atenção não só a Ceilândia, mas a todas as periferias do Distrito Federal. Que possamos, cada vez mais, nos orgulhar de onde viemos e lutar para que as nossas cidades tenham mais equipamentos culturais, de lazer, de saúde e de educação”, falou.
“Penso que a Ceilândia para resolver seus problemas precisa se organizar mais nos movimentos sociais e até criar outros, a fim de que haja pertencimento de muitos nessa história de luta. Veja que na cultura, não temos cinema, fora o teatro do Sesc que é privado, não temos teatro, lutamos pela construção do segundo hospital, construíram um "galpão" e chamam "Hospital do Sol", o centro cultural é uma luta de quase 50 anos para terminar as obras necessárias. O parque Recreativo do Setor "O" está inconclusivo. Enfim,na visão do povo que sente na pele todos os dias as dificuldades é bem diferente”, disse Maria Madalena.
“A Ceilândia que eu quero pro futuro é que a gente tenha um dos maiores centros culturais do DF, a gente merece nosso CCBB, nosso Itaú Cultural. Porque só tem no Plano? Porque o CCBB fica tão longe? Porque o Teatro Nacional fica no Plano Piloto apesar de estar fechado? Porque só lá tem o cinema público, o Cine Brasília? Então a gente quer e a gente precisa, e vamos conseguir. Essa é uma expectativa, mas também é uma luta e eu vejo um futuro onde Ceilândia vai inverter o fluxo das atividades econômicas e culturais do DF”, concluiu Antônio de Paduá.
Com informações do Brasil de Fato
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