Em 2022, as cinco equipes multiprofissionais ofertaram 14.325 atendimentos individuais e 20.723 procedimentos, o que inclui aplicação de v...
Em 2022, as cinco equipes multiprofissionais ofertaram 14.325 atendimentos individuais e 20.723 procedimentos, o que inclui aplicação de vacina, insulina, entrega de medicamentos, testes rápidos, entre outros
Deitado embaixo de uma marquise, Vitor Pereira*, 30 anos, se cobre do frio. O par de tênis faz o papel de travesseiro enquanto o edredom doado é ao mesmo tempo a cama, o teto e a parede. A rua é a serventia da casa. Em seu isolamento público, queixa de dor de dente e de uma ferida que tem no corpo. As reclamações têm um direcionamento. Aproxima-se dele uma equipe do Consultório da Rua para verificar a situação. Vitor é acompanhado há dois anos por um grupo multiprofissional de Taguatinga, formado por uma médica, uma enfermeira, uma psicóloga, dois técnicos de enfermagem e uma assistente social.
Os profissionais percorrem toda a região Sudoeste, que abrange Águas Claras, Recanto das Emas, Samambaia, Taguatinga e Vicente Pires. O objetivo é levar a Saúde para as pessoas vulneráveis, que por preconceitos, dificuldade de acesso e outras razões só contam com a assistência porque o Estado presta esse serviço.
"Gosto muito de ver vocês", afirma o jovem, que está há cinco anos nas ruas. Ele é soropositivo e iniciou o tratamento pela equipe do consultório itinerante. Atualmente, o rapaz também tem vínculo com a Unidade Básica de Saúde nº 3, que oferece tratamento ao morador de rua. "Não tenho nem documento, mas qualquer problema sou atendido", conta. Vitor tem acesso a medicamentos, pomadas e orientações para a prevenção. "Ele interrompe e volta ao tratamento", detalha a enfermeira Lea Graziela Nunes Portela. A falta de constância é um desafio. Mas o maior, segundo a equipe, é estabelecer o vínculo com os pacientes.
"Tudo depende da história de vida do paciente, das frustrações e das relações que construiu", explica a assistente social Ana Rosa Pessoa Peixoto, que trabalha no projeto desde o início em 2012. "Teve um caso que a gente vinha todos os dias por dois anos e se apresentava como saúde e ele nem nos respondia. Era um trabalho de formiguinha para conseguir acessar os pacientes", recorda.
Equipes
Do outro lado da rua, Artur Magno*, 50 anos, espera a assistência chegar. Ele está sentado em um daqueles cobertores que só se vê na rua e que está perfeitamente dobrado como se fosse de hotel. O homem tem esquizofrenia, bipolaridade e usa álcool e outras drogas. O morador de rua conta às profissionais sobre as 16 fazendas que diz ter, que é doutor e que morava em uma mansão. Também reclama de uma coceira, de manchas pelo corpo e pede para fazer exames.
Começa a chover e a equipe continua na rua. "Quando prometemos levar um medicamento no dia, nós temos que atender porque isso impacta na confiança que eles têm na gente", justifica a enfermeira Lea Graziela. A equipe da região Sudoeste é uma das cinco que cobrem o Distrito Federal. A maioria conta com a composição mínima de assistente social, enfermeiro, médico, psicólogo e técnicos de enfermagem. A gerente de Atenção à Saúde às Populações em Situação Vulnerável e Programas Especiais, Juliana Oliveira Soares, informa que também há duas outras equipes que estão em processo de cadastramento pelo Ministério da Saúde.
De acordo com pesquisa da Companhia de Planejamento do Distrito Federal (Codeplan) publicada em 2022, a estimativa é de 2.938 pessoas morando na rua. No mesmo ano, as cinco equipes do consultório na rua ofertaram 14.325 atendimentos individuais e 20.723 procedimentos, o que inclui aplicação de vacina, insulina, entrega de medicamentos, testes rápidos, entre outros. No ano passado, também foram registrados 1.043 atendimentos odontológicos.
Invasão
As equipes do consultório na rua também são fundamentais para as populações em invasões. Atrás de dois tapumes em Taguatinga, esconde-se uma família de 14 pessoas. Os moradores preferiram não se identificar para evitar que fossem removidos do barraco que construíram naquele local. A água esverdeada deixa clara a insalubridade do espaço. Em um dos palete que a família usa de ponte, o patriarca da família, 57 anos, escorregou, machucou a perna e as costelas. "Sinto dor para respirar".
A equipe aplicou analgésico para passar a dor, receitou medicamentos e encaminhou para que fizesse a radiografia das regiões machucadas. "Pode ter trincado alguma coisa, e é importante checar", tranquiliza a técnica em enfermagem Eldivone Sousa. Todos receberam um kit de higiene bucal. Os moradores também ganharam uma cesta básica que foi doada pela comunidade à Unidade Básica de Saúde nº 5, de Taguatinga, que é responsável pelo consultório na rua.
Interessados podem fazer doações de agasalhos, cestas básicas e água que são levados às pessoas em situação de vulnerabilidade atendidas pela equipe. Esses profissionais no dia a dia chegam a uma parte da população que em geral é ignorada. Para que tenham acesso ao Sistema Único de Saúde, a Secretaria diariamente realiza o trabalho de enxergar os invisíveis.
Com informações da Secretaria de Saúde DF
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