O local onde moramos pode influenciar nossa saúde, e não só a mental. Estudo mostra as diferentes consequências de quem mora no campo e de...
O local onde moramos pode influenciar nossa saúde, e não só a mental. Estudo mostra as diferentes consequências de quem mora no campo e de quem vive nas grandes cidades
Pesquisas têm demonstrado, nos últimos anos, que, mesmo dentro da cidade, o contato com o verde pode trazer benefícios ao cérebro. Ao caminharem pela cidade com um aparelho de eletrencefalograma portátil e passarem por ruas comerciais agitadas, voluntários apresentam o cérebro excitado. O contrário acontece em um parque da cidade, quando as ondas cerebrais ficam mais “meditativas”. Sabemos também que pessoas que moram próximas a árvores e parques têm níveis menores do hormônio do estresse cortisol quando comparadas às que vivem cercadas de concreto por todos os lados.
Já é bem reconhecido que as pessoas que vivem nas grandes cidades têm maior risco de apresentar transtornos mentais. Através de ressonância magnética funcional, foi demonstrado que o cérebro de quem mora no campo reage de forma diferente a estímulos de estresse quando comparados aos moradores da cidade. Isso rendeu até a capa da prestigiada revista Nature. Os pesquisadores mostraram uma maior ativação das amígdalas entre os moradores de grandes cidades e foi curioso o fato de que isso estava presente mesmo nos adultos que viveram nas “selvas de concreto” somente na infância.
Outro estudo, conduzido pelo Instituto Max Planck, na Alemanha, apoiou esses achados ao demonstrar que as pessoas que moram ao redor de muita natureza têm maior integridade de uma das regiões do cérebro mais associadas ao processamento do estresse e reações frente ao perigo. E essas estruturas são as amígdalas. Mas para desvendar a velha pergunta — o que vem primeiro, o ovo ou a galinha? —, o Instituto Max Planck acaba de publicar novos resultados apontando que o contato com a natureza é que é responsável por essa maior integridade, e não o contrário.
Digamos que pessoas com essa anatomia avantajada das amígdalas tivessem a tendência em morar mais próximos à natureza. Provavelmente não é isso o que acontece. Dessa vez foi comparada a ativação das amídalas, por ressonância magnética funcional, após uma hora de caminhada na floresta ou numa rua movimentada. Após a caminhada na floresta, as amígdalas ficaram menos ativadas, o que não aconteceu com os voluntários que ficaram nas ruas da cidade.
O local onde moramos pode mesmo influenciar nossa saúde, não só a saúde mental. Sabemos que morar à beira de rodovias aumenta o risco de doenças cardiovasculares devido à poluição do ar, e quanto maior o número de restaurantes “fast food” na vizinhança, maior o risco de infarto agudo do coração e derrame cerebral. O risco de diabetes é menor em comunidades que têm na vizinhança boas opções para realização de atividade física, além de comércio com oferta de produtos alimentícios saudáveis. Isso sem falar no trânsito.
Dr. Ricardo Teixeira é neurologista e diretor clínico do Instituto do Cérebro de Brasília
Com informações do CB
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