A estudante Maria José, de Samambaia, reclamou que sempre "vai haver alguém desassistido" devido ao fato de alunos em diferentes...
A estudante Maria José, de Samambaia, reclamou que sempre "vai haver alguém desassistido" devido ao fato de alunos em diferentes níveis de aprendizado estarem na mesma sala de aula
A Educação de Jovens e Adultos (EJA) foi tema de comissão geral nesta quinta-feira (25) no plenário da Câmara Legislativa do Distrito Federal. O debate reuniu professores, orientadores e estudantes de centros de ensino de diversas regiões administrativas do DF, a exemplo de Samambaia, Ceilândia, Gama e Plano Piloto. De forma unânime, os participantes reclamaram da adoção do sistema multietapas (que reúne diferentes séries numa mesma turma) na EJA.
O líder do Bloco Sustentabilidade e Educação (PV/Avante), deputado Professor Reginaldo Veras (PV), propôs a realização da comissão geral e se comprometeu a formular um documento com as demandas apresentadas e encaminhá-lo à Secretaria de Educação. Além disso, o parlamentar disse que irá acionar a Promotoria de Justiça de Defesa da Educação (Proeduc) do Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT) a respeito do cumprimento das metas do Plano Distrital de Educação (PDE), em especial no que concerne às salas multietapas.
“O sistema multietapas é um verdadeiro atraso e retrocesso, é inconcebível no Distrito Federal”, avaliou Almeida. “Lidamos com processo de ensino-aprendizagem, para que os alunos tenham uma assimilação ativa dos conhecimentos. Com a junção de turmas, um estudante da EJA que levaria um ano para a primeira e segunda séries, agora faz as duas em um semestre”, continuou.
“Juntar estudantes de séries diferentes numa mesma sala de aula deixa o professor maluco e é um desestímulo para aqueles que estão fazendo um esforço para se alfabetizar”, observou a presidente da Comissão de Educação, Saúde e Cultura (Cesc) da CLDF, deputada Arlete Sampaio (PT).
Ela destacou a alegria por ter participado do lançamento do ProEJA (Programa Nacional de Integração da Educação Profissional com a Educação Básica na Modalidade de Educação de Jovens e Adultos), na Ceilândia, com a presença de Paulo Freire.
Além disso, vários professores reclamaram da falta de busca ativa de estudantes para a EJA, com o retorno das aulas presenciais. “A secretaria não atacou a evasão escolar: muitos alunos adultos não retornaram por medo da pandemia e da doença e por falta de cartões mobilidade e de segurança para a locomoção, à noite, para as escolas”, apontou Glayce Almeida.
A voz dos aprendizes
Os estudantes também não gostaram da adoção do sistema multietapas. “São duas turmas juntas, sempre vai ficar gente desassistida”, reclamaram alguns. Diversos alunos narraram suas experiências de vida, a maioria marcadas pela falta de oportunidades, e apontaram as salas de aula da EJA como espaços para a conquista de autonomia e realização de sonhos.
Atualmente, a Escola Meninos e Meninas do Parque oferece os dois primeiros segmentos da EJA (o 1º corresponde aos anos iniciais do Ensino Fundamental; e o 2º segmento, aos anos finais do Ensino Fundamental). Santos defendeu a implantação do 3º segmento (equivalente ao Ensino Médio) naquele centro.
A importância da EJA como política de inclusão social foi ressaltada por vários na comissão. O deputado Professor Reginaldo Veras citou o exemplo de um aluno que passou pela EJA e hoje leciona numa universidade dos Estados Unidos. “Isso mostra que a política de inclusão dos que não puderam estudar no período adequado, quando feita com seriedade, é uma política de inclusão social que deve ser levada a sério”, argumentou o distrital.
Por sua vez, a estudante Maria da Conceição (57 anos), do CEM 304 de Samambaia, disse ter podido ingressar na escola já com os filhos formados. Ela está na Etapa 3 da EJA e contou ter ficado “triste” quando as aulas retornaram em agosto. “Quero aprender. Cadê a Secretaria da Educação neste debate? Sou cidadã, pago imposto e gostaria de respostas”, disse.
Assim como a estudante, outros participantes da comissão também lamentaram a ausência de representantes da secretaria na discussão.
Denise Caputo - Agência CLDF
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