É cada vez mais comum pacientes preocupados com seus esquecimentos. Saiba mais sobre o "efeito porta" — lapso repentino ao ir de...
É cada vez mais comum pacientes preocupados com seus esquecimentos. Saiba mais sobre o "efeito porta" — lapso repentino ao ir de um cômodo para o outro — e quando investigar
Dois estudos — um da Universidade de Notre Dame, nos Estados Unidos; outro, da Bond University, na Austrália — comprovam a tese: quando passamos por uma porta, a memória pode falhar. "O simples entrar ou sair por uma porta representa um limite de evento na mente. Quando você muda de ambiente, muda também o foco de atenção, compartimenta a memória, e a lembrança se torna mais difícil", afirma o médico Adiel Rios, mestre em psiquiatria pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).
Danielle H. Admoni, psiquiatra também na Unifesp e especialista pela ABP (Associação Brasileira de Psiquiatria), explica que toda falha de memória recente vem de uma sobrecarga de estímulos. É como se a mente não desse conta de tantas pendências: "Como se tudo fosse urgente, você foca em uma tarefa. Aí, logo precisa focar em outra coisa e, por isso, esquece a primeira", detalha.
Com mais informação sobre doenças que afetam a memória, muitos pacientes desconfiam que seus esquecimentos possam indicar algo grave. A médica orienta que o efeito porta é comum e, em geral, só é preciso atenção se esses lapsos estiverem associados a prejuízos importantes. Deixar a porta de casa aberta ou o fogão ligado, não buscar os filhos na escola, esquecer entregas cruciais do trabalho ou da faculdade são alguns exemplos. Em caso de dúvida, o paciente deve procurar um psiquiatra ou um neurologista, especialidades mais indicadas para esses casos.
O que é o "efeito porta"
É quando a pessoa esquece o que ia fazer assim que entra em um ambiente diferente, um lapso de memoria repentino.
Causas
Como evitar
Avaliação neuropsicológica
Psiquiatras e/ou neurologistas podem recomendar um teste, com cinco ou seis questões, para saber quanto o paciente sustenta de atenção e qual tipo de memória está alterada. “Funciona como um raio-x mental”, compara a psiquiatra Danielle H. Admoni. Assim, é possível descartar um quadro demencial, por exemplo.
Palavra do especialista
1. O que mais nos ajuda a entender até onde o "efeito porta" é normal?
Há uma complexidade nesse tema porque as pessoas têm, essencialmente, características diferentes. Deve-se investigar caso o nível de desatenção aumente e continue crescendo em comparação ao normal conhecido da pessoa. Outro motivo para investigar, é se esses esquecimentos causam problemas reais: esquecer compromissos, receber reclamações por desatenção, ter prejuízos materiais, financeiros, enfim.
2. O que se sabe sobre a relação entre lapsos de memória enquanto sequela da covid-19?
É importante lembrar que todo nosso conhecimento sobre covid-19 ainda está sendo construído - verdades do momento são desmentidas após alguns meses. Mas, sim, pessoas que tiveram infecções pelo novo coronavírus, mesmo sem sintomas graves, têm reclamado de alteração de memória. Geralmente a queixa tem a ver com disfunção executiva e desatenção, não propriamente com problemas para memorizar. No caso da covid, há semelhança com situações em que uma infecção grave no corpo muda também o funcionamento do cérebro. Isso é chamado de delirium (encefalopatia). Um exemplo extremo de delirium é quando uma criança tem uma febre muito alta e começa a “delirar de febre”, falando coisas desconexas, ficando agitado ou muito sonolenta. No caso do pós-covid, parece que esse “delirium” fica em um nível mais leve por mais tempo. A boa notícia é que o problema costuma melhorar aos poucos. Em muitas situações, é comum também encontrar outras causas para essas queixas cognitivas, como insônia, transtorno de ansiedade e transtorno depressivo, que, por coincidência, também são frequentes em pessoas que tiveram covid.
3. Usar o celular ou outras tecnologias pode contribuir para esse esquecimento?
O uso de telas digitais acaba mesmo dificultando nosso foco de atenção. Existe toda uma engenharia por trás de aplicativos e redes sociais para manter nossa atenção ativa. Esse bombardeio de estímulos somado a uma falta de treino em manter voluntariamente nosso foco de atenção por períodos longos de tempo (observe que os vídeos que mais circulam na internet costumam ter curta duração) limitam muito nossa capacidade de atenção e, indiretamente, nosso desempenho em tarefas que requerem uso de memória
Carlos Uribe é médico neurologista do Hospital DF Star, da Rede D’Or.
Com informações do CB
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