Arcebispos de Manaus e de Brasília são empossados. Paraguai, Timor Leste, Cingapura e Mongólia ganham representantes Papa Francisco fala d...
Arcebispos de Manaus e de Brasília são empossados. Paraguai, Timor Leste, Cingapura e Mongólia ganham representantes
Papa Francisco fala durante o consistório, na Basília de São Pedro: diversidade na cúpula da Igreja Católica - (crédito: Fotos: AFP)
Com o olhar voltado para a consolidação de uma maior diversidade na Igreja Católica, o papa Francisco presidiu, no sábado (27/8), a cerimônia de posse de 20 novos cardeais. Entre eles, estão dois brasileiros, os arcebispos de Brasília, dom Paulo Cezar Costa, e de Manaus, dom Leonardo Steiner — o primeiro representante da Amazônia a integrar o Colégio Cardinalício. Trata-se do oitavo consistório de Francisco, que completará uma década de papado em 2023, e, especula-se, estaria pavimentando o caminho para a sua sucessão.
Dos 229 integrantes do Colégio de Cardeais, 132 têm menos de 80 anos e, dessa forma, o direito de votar num conclave para a escolha de um novo papa. Em nove anos e cinco meses de pontificado, o religioso argentino designou 83 cardeais do total atual de eleitores, um número determinante: dois terços é a maioria é a maioria exigida para a fumaça branca no Vaticano. Dos 20 nomeados ontem, 16 preenchem esse requisito.
Fiel a sua linha a favor de uma Igreja mais social, menos europeia, próxima aos esquecidos, Francisco selecionou dois africanos e cinco asiáticos, incluindo dois indianos, confirmando o avanço do continente na Igreja. Pela primeira vez, quatro países estarão representados no Colégio Cardinalício: Mongólia, Paraguai, Cingapura e Timor Leste. “Os novos cardeais representam a Igreja de hoje, com uma forte presença do Hemisfério Sul, onde vivem 80% dos católicos”, observou o vaticanista Bernard Lecomte.
Durante a cerimônia, na Basílica de São Pedro, no Vaticano, os novos cardeais se ajoelharam diante do pontífice para receber o barrete vermelho cardinalício, o anel e título. Dezenove compareceram à audiência, pois o arcebispo de Gana, Richard Kuuia, teve que ser hospitalizado por problemas cardíacos depois de chegar a Roma.
Na homilia, Francisco falou do espírito que deve animar a missão dos cardeais: abertura a todos os povos da terra. "Um cardeal ama a Igreja, sempre com o mesmo fogo espiritual, seja tratando das grandes questões ou das menores, seja encontrando-se com os grandes deste mundo ou com os pequenos, que são grandes diante de Deus", ressaltou o papa, de 85 anos, diante da basílica lotada por cardeais de todo o mundo, convocados para uma reunião paralela e inédita de dois dias, amanhã e terça-feira.
Esse encontro será oficialmente dedicado à reforma da Constituição Pontifícia, aprovada em março e em vigor desde 5 de junho. Mas para muitos será uma espécie de pré-conclave, para que os cardeais façam um balanço da situação da Igreja e se conheçam melhor. Com problemas de saúde e dificuldades de locomoção, o próprio papa não descartou a possibilidade de uma renúncia, ao retornar para a Itália após cumprir uma intensa agenda no Canadá, no fim de julho.
A ideia de um pré-conclave, contudo, foi rechaçada por cardeais. “Eu não acredito nesses boatos, ainda mais agora que o vi pessoalmente. Teremos o papa Francisco por muito tempo ainda", afirmou o arcebispo emérito de Cartagena das Índias (Colombia), Jorge Enrique Jiménez Carvajal. "O Santo Sadre está lúcido, com boa saúde. Disse-me apenas sentir uma certa dor no joelho, mas o vi com total capacidade de exercer suas funções", acrescentou.
“Mensagens”
Entre as nomeações consideradas mais notáveis pelos especialistas na Igreja está a do americano Robert McElroy, arcebispo de San Diego, na Califórnia, considerado um progressista por suas posições sobre os católicos homossexuais e o direito ao aborto. "Viemos dos quatro cantos do mundo para aprender a nos conhecermos", disse o americano pouco antes da cerimônia.
Outra indicação tida como emblemática é a do missionário italiano Giorgio Marengo, que trabalha na Mongólia. Ele será o cardeal mais jovem do mundo, com apenas 48 anos. "É um sinal de atenção para realidades que geralmente são consideradas minoritárias [...] porque as pessoas à margem estão no coração do Santo Padre”, disse Marengo à imprensa.
A presença nos primeiros bancos da basílica do cardeal italiano Angelo Becciu, que está sendo julgado no Vaticano por desvio de fundos e a quem o pontífice privou de seus privilégios em setembro de 2020, foi interpretada como uma mensagem de perdão.
Durante a cerimônia, o papa também aprovou a canonização de dois italianos, o religioso João Batista Scalabrini, bispo de Piacenza, e Artemide Zatti, leigo professo dos salesianos, que dedicaram suas vidas a ajudar os emigrantes que no início do século 20 viviam na América do Sul, em particular na Argentina.
Quem são os dois cardeais brasileiros
Nascido em Santa Catarina, dom Leonardo Steiner, 71 anos, tem contato intenso com a Amazônia desde 2005, quando foi nomeado bispo pelo então papa João Paulo II para a Prelazia de São Félix, em Mato Grosso. Após ser indicado pelo papa Francisco como arcebispo da Arquidiocese de Manaus, em novembro de 2019, participou da articulação para realizar o Sínodo da Amazônia. Ele classificou sua designação a cardeal "uma expressão de carinho, acolhida, proximidade e de cuidado” do pontífice para com toda a região amazônica, da qual é o primeiro representante no Colégio Cardinalício. “Ao voltar sua atenção para a Amazônia, o papa Francisco quer que nossa Igreja seja mais samaritana, dinâmica e sinodal, assumindo a responsabilidade de evitar a destruição da Terra”, disse Steiner, forte crítico da política do presidente Jair Bolsonaro pra a região, ao site Vatican News.
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