A senhora se sente preparada para enfrentar os desafios da saúde pública do DF?
Estar à frente da secretaria é, sem dúvida, uma tarefa gigante, em especial por estarmos vivendo a pandemia, com uma cepa do novo coronavírus de alta transmissibilidade. A situação pede ferramentas de gestão que nos permitam fechar essa equação do cuidado com a população para voltarmos à normalidade.
Para tudo isso acontecer, precisamos focar dois pontos: ampliar a cobertura vacinal e testar mais sintomáticos. Consequentemente, vamos aumentar o isolamento dos infectados para quebrar a cadeia de transmissão do vírus.
Além disso, a população precisa incorporar as medidas de prevenção não farmacológicas em sua rotina. A gente precisa entender que os cidadãos sintomáticos e as pessoas que vão enfrentar grandes aglomerações precisam usar máscara. Todos precisam aprender a lavar as mãos corretamente e com frequência. É um processo educativo que estamos vivendo há mais de dois anos. São cuidados individuais para o bem coletivo. Vejam que abrimos a vacinação e testagem noturna há menos de uma semana e já sentimos a queda na taxa de transmissibilidade.
O usuário que chega a uma UPA precisa ter a sua condução dada em até 24 horas, seja para casa, seja para um hospital de retaguarda. Por isso, focados a criação de leitos que irão desafogar essas unidades
Como a senhora espera aumentar a cobertura vacinal contra a covid-19?
A quebra da cadeia de transmissão da covid envolve vacinar e testar. Então, estamos usando nossa valiosa mão de obra para realizar essas tarefas. Abrimos mais 17 pontos de vacinação noturna. Não foi uma tarefa fácil, os profissionais estão cansados. Mas pedi esse gás aos nossos servidores e fiquei muito agradecida com a compreensão e adesão de todos. Em cinco dias, mais de 7 mil pessoas foram vacinadas e 2,5 mil testadas.
Temos também o Carro da Vacina, que teve sua 12ª edição no sábado passado [25/6] no Trecho 3 do Sol Nascente. No dia 9 deste mês, atenderemos a área rural de Planaltina. O veículo para em porta de mercado, na frente dos bares, em todo lugar. É um projeto muito significativo para mim, implantado em Ceilândia quando eu estava à frente da Superintendência da Região Oeste de Saúde.
Juntamente com esses esforços, agradecemos a ajuda do Sistema S, que vai disponibilizar colaboradores do Serviço Social do Comércio [Sesc] para nos ajudar na vacinação, e dos estudantes da Fepecs [Fundação de Ensino e Pesquisa em Ciências da Saúde], que vão nos ajudar checando os cartões e conferindo os processos de diluição das vacinas.
Além disso, assinamos um termo de cooperação com a Organização Pan-Americana da Saúde [Opas] para termos mais aplicadores de injetáveis. Já temos 15 profissionais recebendo treinamento da Secretaria de Vigilância em Saúde [SVS] para que possam atender os locais com déficit de colaboradores.
“Em 24 de junho, tivemos a ampliação de carga horária de 300 técnicos em enfermagem – profissionais que trabalhavam 20 horas por semana e passaram a atuar por 40 horas, um aumento previsto em lei. Na prática, é como se tivéssemos feito concurso para 300 técnicos. Fizemos a mesma ampliação na carga horária de 95 médicos de diversas especialidades”
Como melhorar o atendimento na ponta da rede pública de saúde do DF?
Alguns pontos são fundamentais para que a gente tenha uma melhora na ponta. O primeiro ponto, necessário, urgente e factível, é a desospitalização. A gente precisa trabalhar com o médico hospitalista, aquele profissional que faz um cuidado longitudinal do paciente e interage com a equipe multidisciplinar.
Também temos que ampliar o acesso às 13 unidades de pronto atendimento [UPAs] do Distrito Federal. O usuário que chega a uma UPA precisa ter a sua condução dada em até 24 horas, seja para casa, seja para um hospital de retaguarda. Por isso, focamos a criação de leitos de retaguarda para desafogar essas unidades.
Em mais alguns dias, teremos o primeiro andar do Hospital Regional de Santa Maria transformado em um desses pontos de retaguarda. Outro ponto é o Hospital da Cidade do Sol, que em breve estará funcionando em sua capacidade plena, com todos os seus 60 leitos de clínica médica.
Por fim, a comunicação também é muito importante. Precisamos capilarizar as informações, fazer uma construção coletiva com superintendentes, diretores, gestores. Quando ocorre o envolvimento de todos, qualquer ideia fica mais fácil de ser executada. A verticalidade dificulta muito.
Como o estreitamento de laços entre a secretaria e o Instituto de Gestão Estratégica de Saúde do Distrito Federal (IgesDF) pode beneficiar a rede pública de saúde do DF?
O IgesDF vem com um modelo de gestão que permite maior celeridade na compra e na contratação. E nós, como Secretaria de Saúde, somos os demandantes. Logo que cheguei ao comando da pasta, demandei essa necessidade de termos mais leitos de retaguarda, por exemplo. Imediatamente, eles fizeram um plano de trabalho, e estamos trabalhando para autorizar tudo e dar os subsídios indispensáveis para que essa entrega aconteça. Não há outro caminho se não o de a gente se alinhar com o trabalho feito pelo o IgesDF.
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O combate à dengue começa com a educação, com mudanças de hábitos – é se importar com o pratinho no quintal, com o lixo jogado em locais inapropriados”
Apesar de ser uma secretaria robusta, com 34 mil servidores, existe uma demanda grande pela contratação de mais profissionais de saúde. Como resolver essa questão?
A saúde é muito dinâmica, principalmente em tempos de pandemia. O profissional que cuida do paciente com covid é o mesmo que se contamina. Além disso, na rotina da secretaria, temos os pedidos de exoneração, as aposentadorias, os servidores que vão a óbito. Todas essas vacâncias acontecem normalmente e precisam de reposição. E, mesmo diante do coronavírus, o GDF está recompondo a força de trabalho na saúde.
Mais de 11 mil servidores entraram nos nossos quadros, quer seja por contrato temporário, quer seja por concurso. Em 24 de junho, tivemos a ampliação de carga horária de 300 técnicos em enfermagem – profissionais que trabalhavam 20 horas por semana e passaram a atuar por 40 horas, um aumento previsto em lei. Na prática, é como se tivéssemos feito concurso para 300 técnicos. Fizemos a mesma ampliação na carga horária de 95 médicos de diversas especialidades – neonatologista, pediatra, ortopedista, cirurgião, ginecologista.
Convocamos 150 enfermeiros de família e comunidade do cadastro reserva. Teremos também o chamamento de administradores, analista de sistemas, fonoaudiólogo, farmacêutico bioquímico… No total, 100 concursados ingressarão nos quadros do governo.
A Secretaria de Economia ainda autorizou a realização de concurso para analista e técnico de saúde, técnico em enfermagem, agentes comunitários de saúde [ACSs] e para agentes de vigilância ambiental [AVA]. No momento, o Distrito Federal conta com 1.200 AVAs e 500 ACS. E, em breve, vamos divulgar o edital para contratação temporária de 70 médicos.
Lembrando que em 26 de junho tivemos concurso para enfermeiros, dentistas e médicos – cerca de 29 mil candidatos fizeram a prova. Os aprovados serão chamados na primeira quinzena de janeiro.
Uma das reclamações da população está no tempo de atendimento das farmácias de alto custo…
A espera dos usuários para serem atendidos pelas farmácias de alto custo sempre me chamou atenção. Não fazia sentido para mim ter o medicamento e demorar horas para entregar por falta de funcionário no guichê.
Pedi que a equipe fizesse um encontro entre o existente e o necessário. Temos três farmácias de alto custo no DF – na região central, no Gama e em Ceilândia. Fizemos remanejamentos dentro das próprias regiões para não mexer com a vida do trabalhador que já atuava nessas determinadas áreas.
Fizemos uma recomposição da mão de obra dentro de cada unidade. E enviamos nove servidores para a central, cinco para Ceilândia e três para o Gama. Estamos trabalhando para dar celeridade aos processos de abastecimento.
O número de casos de dengue cresceu muito na última temporada de chuva. O que aconteceu? Como evitar novos aumentos?
A pandemia da covid-19 trouxe consigo uma realidade muito peculiar: os agentes de vigilância ambiental não podiam entrar nas residências, ficamos todos aglomerados dentro de casa acumulando mais lixo… Além disso, tivemos o aumento da densidade pluviométrica. A larva do Aedes Aegypti encontrou um ambiente favorável para se desenvolver.
O combate à dengue começa com a educação, com mudanças de hábitos – é se importar com o pratinho no quintal, com o lixo jogado em locais inapropriados. Esse processo educativo precisa ser constante, e a Secretaria de Educação tem feito um ótimo trabalho nesse sentido. Além disso, a Secretaria de Comunicação investiu mais de R$ 7 milhões em material publicitário para conscientizar e orientar a população sobre essa luta contra o mosquito.
As administrações regionais também têm feito um bom trabalho de limpeza e coleta de carcaças. E, no final da linha de força-tarefa contra a dengue, temos a aplicação do UBV[o defensivo Ultrabaixo Volume] pesado. São 13 carros de fumacê atendendo todo o DF. Mas nada disso é suficiente se a população não se envolver, porque 90% dos focos do mosquito estão do lado de dentro dos imóveis.
Com informações da Agência Brasília
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