Nesta semana, o recolhimento nas casas das doadoras foi diferente: as 13 mulheres visitadas foram homenageadas com pote de papel simboliza...
Nesta semana, o recolhimento nas casas das doadoras foi diferente: as 13 mulheres visitadas foram homenageadas com pote de papel simbolizando o frasco do alimento
Um choro baixinho, mas um coração forte. Essa é a realidade de muitos dos bebês que nascem prematuramente e precisam de cuidados intensivos para estarem aptos à alta hospitalar. Dentro desses cuidados, a nutrição com leite materno, muitas vezes doado por lactantes que não a mãe, é fundamental para a plena recuperação dos bebês. William dos Santos é um dos pequenos que está internado na Unidade de Terapia Intensiva Neonatal (Utin) do Hospital Regional de Santa Maria (HRSM) há 40 dias e que é alimentado pelo Banco de Leite Humano do HRSM.
William nasceu no sexto mês de gestação com apenas 956 gramas, e hoje pesa 1,3 kg, mas precisa chegar aos dois quilos para ir para casa. Por enquanto, o leite chega a ele por uma sonda de alimentação, já que o sistema gastrointestinal dele é muito imaturo. Nos primeiros dias de vida, dois mililitros de leite materno servidos a cada três horas eram suficientes. Hoje, William consome 24 mililitros.
A mãe de William, Laissa dos Santos, 18 anos, mora em Luziânia e trabalha como auxiliar de cozinha. Ela conta que William nasceu antes do previsto por causa do descolamento da placenta. “São poucos os momentos em que posso segurá-lo nos braços. Não posso amamentá-lo diretamente, mas o leite que produzo eu entrego ao banco de leite, porque sei da importância disso para a vida dele e para a de outros bebês também”, diz.
Nem todas as mães de bebês prematuros produzem leite por causa do estresse gerado pela internação do filho. Por isso, há uma equipe especializada no tratamento do leite humano: coleta, preparo e distribuição. Desde as 7h, técnicas de enfermagem preparam potes e caixas de armazenamento que são entregues a uma dupla de bombeiros militares do DF responsável pela coleta do alimento na casa das mães doadoras. Eles saem do hospital por volta das 8h e, a partir daí, cronometram o tempo para que toda a rota de endereços das doadoras seja realizada em até seis horas, assegurando a qualidade do leite. Os prematuros são alimentados a cada três horas, e a quantidade é calculada baseada no tamanho e o correto desenvolvimento dos bebês.
A técnica de enfermagem Luciene Alves de Melo explica que, para chegar até os bebês, o leite passa pelas etapas de coleta, armazenagem, testes de cheiro e de visão para observação do aspecto do leite, testes biológicos para detecção de micro-organismos, pasteurização, fracionamento e distribuição. “Além disso, as mães que fazem as doações são submetidas, a cada semestre, à testagem de doenças como HIV, sífilis e hepatite.”
A sargento Cleide Maria Nóbrega da Silva trabalha há dez anos fazendo a coleta nas casas das doadoras. Ela conta que a rota é organizada de acordo com a proximidade dos endereços, melhorando a logística e otimizando o tempo. “Muitas vezes, acabo criando laços de amizade com as doadoras e conhecendo todos os filhos delas”, contou a bombeira. Quando a equipe chega à casa da doadora, os potes cheios são recolhidos e são entregues novos kits com recipientes vazios para que as mães façam a coleta.
Nessa terça-feira (17), o recolhimento foi diferente. Em razão do Dia Nacional de Doação de Leite Humano, celebrado oficialmente em 19 de maio, as 13 doadoras visitadas receberam como homenagem um mini pote confeccionado de papel, simbolizando o frasco de leite materno. “Esse é um gesto em reconhecimento pelas doações que essas mães têm ofertado”, explica a bombeira.
Uma das mães homenageadas é Denise Raiane Gomes da Silva, 27 anos, moradora de Santa Maria que semanalmente doa entre 20 e 30 potes de aproximadamente 400 ml. Ela é mãe de Richard Ferreira da Silva, que está com dois meses de vida. Apenas na terça-feira, a doadora chegou a fornecer mais de seis litros. “Comecei a doar desde o início, porque produzia muito leite e eu sabia que tinha muito bebê precisando. Sinto muita gratidão e agradeço a Deus por ter tanto leite assim para o meu filho e para ajudar outros nenéns”, afirma.
Outra mãe doadora assídua é Joice Cristinne Alves, 24 anos, moradora do Jardim Ingá e mãe de Maria Júlia Ribeiro, que está com dois meses de vida. “Eu resolvi doar porque minha filha nasceu no Hospital do Gama e vi muitas crianças necessitando de leite, várias mães não produziam o suficiente. Então, como eu tenho muito, divido. Em média, estou doando sete potes por semana”, frisa.
Mãe de João Miguel Santos Cardoso, que tem dois meses de vida, a doadora Bruna Stephany da Silva, 23 anos, conta que trabalha como enfermeira e sabe muito bem a importância da doação. “O leite materno é um anticorpo pronto e é de extrema importância para os bebezinhos internados na UTI. Então, como eu não tenho dificuldade em ordenhar, faço a doação. Graças a Deus, tenho muito leite para o meu bebê e para outros que precisam.”
Bancos de leite
O DF conta com uma rede de 14 bancos de leite humano, sendo um deles do HRSM, que é administrado pelo Instituto de Gestão Estratégica de Saúde do DF (Iges-DF). A chefe do Banco de Leite do HRSM, Maria Helena Santos, explica que o leite materno é muito importante para todos os bebês até os seis meses de vida em razão dos inúmeros anticorpos. “Sempre incentivamos o aleitamento materno exclusivo até os seis meses e complementar até os dois anos. O leite materno é como se fosse uma vacina para o bebê, possui muitas propriedades benéficas e ajuda no desenvolvimento e crescimento”, cita a profissional.
Segundo ela, em razão do HRSM ser uma unidade referência em gestação de alto risco, há muitos prematuros com baixo peso. “Para atender esses bebês, precisamos de um volume considerável de leite humano. Por isso, convidamos essas mães que têm volume excedente a fazerem a doação.”
Dados
O HRSM fornece leite materno para a Utin, que possui 20 leitos, a Unidade de Cuidados Intermediários Convencionais (UCINCo), que conta com dez leitos, a Unidade de Cuidado Intermediário Neonatal Canguru (UCINCa), com cinco leitos, além da pediatria, maternidade e centro obstétrico conforme a demanda. O Banco de Leite do HRSM já coletou neste ano, até abril, 280.435 litros de leite.
Como doar
As mães que desejarem contribuir com essa ação de solidariedade podem se cadastrar pelo site Amamenta Brasília, ligando no telefone 160 – opção 4, ou pelo telefone do Banco de Leite de Santa Maria: (61) 2017-1500, ramal 5529. Outra opção é entrar em contato com o banco de leite mais próximo. Após o cadastro, uma equipe do Corpo de Bombeiros Militar (CBMDF) visita a residência para deixar o kit de doação (frascos, máscara e touca). O recolhimento é feito semanalmente, assim a mãe não precisa sair de casa para contribuir.
Com informações do Instituto de Gestão Estratégica de Saúde do DF
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