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Número de infecções aumenta e taxa de transmissão atinge recorde de 2,61

  Valor registrado nessa sexta-feira (21/1) se iguala ao maior desde o início da crise sanitária, 2,61. Em meio ao avanço da covid-19 no DF,...

 


Valor registrado nessa sexta-feira (21/1) se iguala ao maior desde o início da crise sanitária, 2,61. Em meio ao avanço da covid-19 no DF, população de rua é um dos grupos mais vulneráveis devido à falta de informação e dificuldade de acesso a itens de proteção

A taxa de transmissão da covid-19, no Distrito Federal, chegou ao patamar do recorde de todo o período de pandemia: 2,61 — quando 100 pessoas passam a doença para 261. O valor, que antes havia sido registrado somente em março de 2020, no início da crise sanitária, foi notificado nessa sexta-feira (21/1), de acordo com a Secretaria de Saúde. O índice mostra que o novo coronavírus está avançando e que cuidados são necessários para toda a população. Neste cenário, as pessoas em situação de rua estão mais vulneráveis. No DF, essa população soma cerca de 2,4 mil indivíduos

Nas últimas 24h, a capital federal teve 3.297 diagnósticos positivos para a doença. No mesmo período, foram registradas três mortes. No total, são 561.457 infecções e 11.139 óbitos. Atualmente, a média móvel de casos está em 4.041, o que indica um aumento de 295,79% em relação aos 14 dias anteriores. A mediana de vítimas está em 2,60, valor 18,18% maior em comparação há duas semanas.

Para o virologista e professor da Universidade de Brasília (UnB) Bergmann Ribeiro, é preciso realizar um estudo para identificar os reais motivos que levaram ao aumento da transmissão no DF, mas ele elenca elementos que podem ter impactado no cenário atual. "Quanto mais se testa, mais se encontra infectados. Uma das prováveis razões é essa. A ômicron é mais transmissível e era previsível o aumento das infecções. Além disso, Brasília é pequena e tem mais gente por quilômetro quadrado, e não temos distanciamento social", avalia.

Uma das formas de combate à pandemia é a vacinação. No DF, podem se imunizar pessoas a partir de 8 anos. A expectativa, agora, é para a inclusão da CoronaVac na campanha para quem tem de 6 a 17 anos. O Governo do Distrito Federal aguarda o envio de uma nota técnica por parte do Ministério da Saúde para iniciar a aplicação com esse imunizante, o que já foi autorizada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Brasília tem estoque da vacina para avançar nas faixas etárias, mais de 570 mil doses. No momento, apenas a vacina da Pfizer está em uso para esse público.

Suporte

De acordo com os últimos dados da Secretaria de Desenvolvimento Social (Sedes), até dezembro de 2021, cerca de 2,4 mil pessoas viviam em situação de ruas no DF. Esse número é 15,9% maior do que os 2.069 registrados em 2020. Os locais com mais incidência são Plano Piloto, Taguatinga, Águas Claras, Ceilândia, Gama, Sobradinho e São Sebastião.

Segundo dados da Secretaria de Saúde do DF (SES-DF), 2,9% da população de rua tiveram covid-19. Até o momento, 2.359 pessoas desse grupo foram vacinadas. Diretor do Sindicato dos Servidores da Assistência Social e Cultural do GDF (Sindsasc), Clayton Avelar afirma que, pelo fato dessa população se locomover bastante, as campanhas de imunização acabam não tendo tanta eficácia. Para ele, é necessário que haja uma ampliação das unidades de acolhimento. "Precisamos de, pelo menos, mais três centros Pop (Centro de Referência Especializado para População em Situação de Rua), para que, de forma organizada, esse público tenha acesso a imunização", argumenta Clayton Avelar.

De acordo com a fundadora do projeto BSB Invisível, Maria Baqui, 24 anos, o número apresentado pelo GDF é subnotificado. "O governo tem dados por meio de abordagens sociais, mas nem todos passam, e esse número não condiz com a realidade. Muitas dessas pessoas nem sequer são identificadas", protesta.

Outra dificuldade apresentada por Maria é a falta de informação. "Antes, a gente saia para distribuir máscara e álcool em gel, e muitas dessas pessoas em situação de rua não sabiam nem que a pandemia estava acontecendo, enquanto já estava tendo até lockdown", destaca.

Quando a reportagem do Correio encontrou com Rian Carlos Gomes de Godoy da Silva, 21, na Rodoviária do Plano Piloto, ele estava passando mal, e reclamou da falta de ajuda por parte das autoridades governamentais. "Está difícil para quem fica na rua. Eu mesmo estou passando mal aqui, e ninguém ajuda", lamenta. Com dor de cabeça e nos olhos, o rapaz contou que foi a um Centros de Atenção Psicossocial (Caps) pedir para chamarem uma ambulância, mas não foi atendido. "Falaram que não podia. Fico preocupado, se vier uma onda mais forte de covid aqui, a população de rua vai morrer todo mundo, antes da gente saber o que está acontecendo", ressalta. 

Rain confessa que está apreensivo com a nova onda da pandemia. "A maioria da população não leva covid a sério não. É por isso que está voltando essa onda de novo. Aqui os caras falam que não pega, que nunca viu morador de rua morrer com covid, mas pega sim", frisa Rian. Imunizado com duas doses da vacina, que tomou em Minas Gerais. "Aqui, eu não consegui tomar a terceira, porque eu estou sem documento, aí eles não deixam tomar a dose."

Na tentativa de minimizar os efeitos do esquecimento dessa população, a iniciativa Mini Gentilezas distribui mini itens de higiene. A coordenadora do projeto no DF, Iris Gouvêa Marques, 36, aponta que, quando se fala em população em situação de rua, há um longo caminho a ser percorrido para efetividade da tutela física. "Mas não dá para fingir que a população de rua não existe. Agora, mais do que nunca, a quantidade aumentou e ficou sob o olhar da sociedade, pois, quando todos foram para dentro de suas casas, ela não teve para onde ir. Não que isso fosse novidade, mas ficou mais evidente. Não dá é para pensar que as pessoas que estão nas ruas não existem, ignorá-las, e que vão resolver sozinhas os problemas da miséria e da doença. Cabe a sociedade civil apoiar com esse tipo de ação de terceiro setor que ONGs fazem e o governo agir", enumera.

Nas ruas há 30 anos, Naiara Bastos da Paz, 30, desabafa que os moradores de rua são os que mais sofrem com a pandemia. "Quem tem condição e moradia, ainda está um pouco garantido, e os moradores de rua ficam de qualquer jeito", fala. Ela queixa-se da falta de suporte por parte das autoridades. "No começo, teve o auxílio emergencial que valeu muito, né? Mas, por enquanto, para mim, não vale de nada, porque começou bem, depois terminou tudo mal, continua tendo gente com covid do mesmo jeito, a situação piorando, e a gente aqui do mesmo jeito."

A Secretaria de Desenvolvimento Social do DF (Sedes-DF) afirma que a distribuição de máscaras e álcool em gel ocorre com regularidade desde o ano passado e que a população em situação de rua tem sido alvo das campanhas para aplicação da dose de reforço do imunizante contra covid-19. No começo do mês, a primeira ação intersetorial ocorreu no Centro Pop da Asa Sul, unidade da Sedes especializada no atendimento a esse público.

Com informações do CB

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