Autor do debate, Leandro Grass observou que não há sinais de que o GDF vá reverter o quadro de "enfraquecimento, improviso e, na pand...
Autor do debate, Leandro Grass observou que não há sinais de que o GDF vá reverter o quadro de "enfraquecimento, improviso e, na pandemia, de queda de matrículas, evasão e abandono"
Problemas e soluções para a Educação de Jovens e Adultos (EJA), cuja continuidade foi agravada durante a pandemia, foram debatidos em audiência pública da Câmara Legislativa, nesta sexta-feira (16), por iniciativa do deputado Leandro Grass (Rede). O parlamentar, que é professor e já ministrou aulas no âmbito desta modalidade de ensino, observou que o programa “tem um valor ímpar, mas não tem recebido a atenção adequada por parte do GDF”. No inicio do debate, ele informou, que a Secretaria de Educação havia sido convidada, mas nenhum gestor compareceu.
Grass apresentou um quadro de “enfraquecimento, improviso e, na pandemia, de queda de matrículas, evasão e abandono, sem que haja sinalização do governo para resolver a questão”. O distrital também chamou a atenção para aspectos sociais e culturais envolvidos na EJA, introduzindo o tema. A seguir, tendo como referência o legado de Paulo Freire, especialistas, professores e um aluno, José Edilson Cordeiro dos Santos, falaram defendendo mais investimentos nesse sistema. Para Santos, motorista do transporte escolar, que está concluindo o ensino médio e pretende “fazer faculdade”, o programa “nos faz ver um outro lado da vida”.
Por sua vez, Dimitri Assis Silveira, do Fórum de Educação de Jovens e Adultos do DF, fez um relato sobre o processo que culminou com a EJA no Distrito Federal. Na sua avaliação, o fato de haver cerca de 30% da população sem concluir a educação básica, para citar apenas um dado exposto, “é uma consequência de problemas estruturais decorrentes do modelo capitalista da sociedade”. Por isso, segundo afirmou, é urgente garantir recursos do Fundeb e de outras fontes, além de acesso à tecnologia. “Temos de pensar a EJA de forma integrada para garantir o direito à educação”, declarou.
Professor da Universidade de Brasília, especializado nessas questões, Renato Hilário dos Reis acrescentou que os diagnósticos estão feitos e há dados disponíveis. “Temos de ser propositivos”, sugeriu, indicando que as relações sociais são um fator que não pode estar ausente nesse processo educacional. Reis defendeu peremptoriamente a nomeação de professores efetivos concursados exclusivamente para o programa. Atualmente, a maioria tem contrato temporário.
A professora Tânia Lima, da rede pública de ensino e integrante do coletivo Somos EJA, lamentou o falecimento de educadores e alunos e salientou que é necessário atentar para as especificidades do corpo discente, acrescentando que, em sua maioria, são mulheres negras. Ela reclamou da falta de informações por parte da Secretaria de Educação sobre o ano de 2020, mas frisou que, somente em São Sebastião, o número de turmas, que era de 44 em 2019, passou para apenas oito no início da pandemia.
Diretor do diretor do Centro Educacional Gisno, na Asa Norte, Isley Marth lembrou ações empreendidas pela unidade para manter a modalidade de ensino naquele estabelecimento, cuja continuidade esteve ameaçada. Foi feita uma “busca ativa” por alunos na Rodoviária e em toda região onde se localiza a escola (906/7 Norte). No total, 1.875 pessoas passaram pela EJA no Gisno. Atualmente, são 219 matriculados.
Rosilene Corrêa , diretora do Sindicato dos Professores (Sinpro), além, de recordar a década em que deu aulas na EJA, que predominantemente ocorre no período noturno, disse que a modalidade é vítima de uma ação que objetiva “fechar as portas”. Na sua análise, a pandemia apenas “escancarou a dura realidade” do programa, dirigido a um público que sofre com uma série de limitações no próprio cotidiano. Um aspecto importante propugnado por ela, para garantir a qualidade da EJA, “é a formação continuada de professores”, além da participação dos alunos nas atividades de planejamento.
Marco Túlio Alencar - Agência CLDF
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