Superintendente de Conservação e Pesquisa do Zoo de Brasília fala sobre a importância da educação ambiental de crianças para a preservação...
Superintendente de Conservação e Pesquisa do Zoo de Brasília fala sobre a importância da educação ambiental de crianças para a preservação da fauna
Atualmente, uma das poucas alternativas de lazer da criançada, em função das restrições impostas com a chegada do novo coronavírus, é o Jardim Zoológico de Brasília. O local segue funcionando de terça a domingo, das 9h às 17h, com capacidade limitada em 1,5 mil pessoas por dia. Na casa da bicharada vive um total de 168 espécies: 63 mamíferos, 73 aves e 32 répteis. Mas, além da simples oferta de diversão, o local é principalmente um ponto de educação ambiental.
“A intenção é fazer com que as pessoas entendam que esses animais estão aqui dentro de um objetivo, não simplesmente que elas vejam e tenham um momento de lazer”, explica a superintendente de Conservação e Pesquisa do Jardim Zoológico de Brasília, Luísa Helena Rocha da Silva, em entrevista à Agência Brasília. Ela conta um pouco como é o trabalho do órgão no cuidado e preservação da fauna e alerta à população sobre a criação ilegal de animais selvagem.
Luísa também fala um pouco sobre o funcionamento do zoo durante a pandemia e aponta que protocolos de segurança estão sendo adotados para evitar a infecção dos bichos e dos servidores e visitantes.
Acompanhe, abaixo, os principais trechos da entrevista.
Quantas espécies, hoje, são cuidadas no Zoológico?
Atualmente, temos um total de 168 espécies, sendo 63 de mamíferos, 73 de aves e 32 de répteis – isso se a gente contabilizar apenas as espécies do plantel, que são os animais cadastrados somente no zoológico. Com os animais que entram no zoo de resgate, que os órgãos ambientais trazem, daria um número bem maior de espécies. Mas é um número bastante flutuante. Eles entram no zoológico, nós cuidamos e depois eles são destinados pelo Ibama.
Quais são os órgãos que trazem os animais feridos ou acidentados para serem tratados em Brasília?
Nossa rotina veterinária é cuidar dos animais do plantel e, também, prestar o apoio necessário aos órgãos ambientais. Durante a pandemia, desde o mês de agosto, nós temos dado um suporte maior ao Ibama, cuidando dos animais que estão feridos ou machucados e que deveriam estar sendo cuidados no Cetas [Centro de Triagem de Animais Silvestres do Ibama]. Devido aos problemas da pandemia que estão passando, eles pediram o nosso apoio. Normalmente, os órgãos ambientais que trazem animais são o BPMA [Batalhão de Polícia Militar Ambiental] e o Ibama. Eventualmente, algum outro órgão também traz para nós algum animal encontrado ferido ou que necessita de resgate. Independentemente de quem resgata e traz para o zoo, quem define a destinação final do animal é sempre o Ibama – se o animal será reintroduzido na natureza ou se vai ficar em alguma instituição.
O que representa o nascimento de espécies dentro do Zoológico, principalmente daquelas ameaçadas de extinção?
Hoje em dia, os zoológicos modernos tentam se enquadrar e participar de programas de conservação, não simplesmente manter o animal em exibição para o público, visando ao lazer, como eram os zoológicos antigos. Nós priorizamos a participação nesses programas de conservação, tanto os nacionais quanto os internacionais. Quando nasce alguma espécie, principalmente sendo ameaçada, para nós é uma alegria misturada com esperança, porque vemos que é uma chance de ter sucesso na reprodução e uma forma de vermos que, mais adiante, se essa espécie precisar de variabilidade genética, nós vamos ter condição de ajudar no futuro daquela espécie. Com o mico-leão-dourado, houve uma movimentação mundial para poder salvar essa espécie. O próprio Zoológico de Brasília tem histórico de participação com a reprodução desse animal. Então, sempre que acontece, é muito gratificante saber que estamos contribuindo para a conservação das espécies.
Antigamente, os zoológicos eram lugares somente para exibir os animais. Com a modernização desses espaços, o que se pode esperar nesses locais?
Hoje em dia, o que os zoológicos mais sérios têm procurado é justamente participar dos programas de conservação e de programas de educação ambiental para que as pessoas vejam a importância desse trabalho desenvolvido em cativeiro. Não temos mais a intenção de simplesmente exibir os animais. Atualmente, isso ainda é complicado, porque muitos visitantes reclamam, inclusive na Ouvidoria, a respeito da ausência de determinadas espécies, como o leão. As pessoas imaginam que podemos conseguir rapidamente um casal de tigres ou um casal de leões, mas não é bem assim. Não é tão fácil, e isso é até uma vantagem para as espécies – o fato de não se poder buscá-las com facilidade. Antes, era muito fácil, porque todos os zoológicos e muitos lugares tinham porque eles eram caçados na natureza ou resgatados de circos. Hoje, o Zoológico de Brasília não busca animais simplesmente para exibicionismo e entretenimento. O objetivo é receber animais com algum fator de conservação, dentro de programas de conservação da espécie, para poder contribuir com o cenário atual por meio da reprodução em cativeiro e da educação ambiental perante a sociedade.
O caso de uma naja que apareceu obteve repercussão em todo o país. Quais ensinamentos foram aprendidos de toda aquela situação?
Todos nós aprendemos muito. Foi uma situação que pegou todos de surpresa, afinal não esperávamos ter uma naja no Distrito Federal, nem mesmo a víbora-verde-de-vogel. Aprendemos, principalmente, que a população precisa se conscientizar mais. Também precisamos de mais educação ambiental, porque muitas pessoas não têm noção do perigo e do desequilíbrio para a fauna que é criar animais simplesmente porque gostam daquela espécie, acham bonita ou pensam que podem domesticar. A domesticação é um processo que leva milhares de anos, mas as pessoas acham que podem pegar um animal silvestre e criá-lo dentro de casa como se fosse doméstico. O que talvez a pessoa tenha é um animal “manso”, não domesticado. Além de ser uma espécie perigosa, a naja é uma espécie exótica, ou seja, não é daqui do Brasil. Isso quer dizer que ela poderia ter fugido e causado um impacto na fauna brasileira, como até já vimos ao longo dos anos. De vez em quando, vemos reportagens sobre a cobra-do-milho, encontrada em alguns edifícios – todas essas espécies que são exóticas têm um impacto na natureza muito grande, além de ser um crime ambiental criar e manter essas espécies em cativeiro sem autorização dos órgãos ambientais. Precisamos ter um pouco mais de cuidado quando buscamos animais. Existem muitos animais que já são domesticados, como o cão, o gato e até algumas aves, que já são próprios para criarmos em casa – até mesmo animais que originalmente já foram silvestres e hoje já são considerados domesticados, como a calopsita e o periquito-australiano. Tem muitas espécies que podemos criar em casa para satisfazer essa nossa necessidade de estar próximo à natureza. É uma necessidade que faz parte do ser humano, mas é importante pensarmos no impacto que isso pode causar e se temos as devidas condições de mantê-los em cativeiro. Sem falar, claro, na autorização que deve ser emitida pelo órgão ambiental para se criar determinada espécie silvestre. Para criar espécies silvestres, acredito que a responsabilidade é até maior. Precisa de cuidados específicos.
Quais têm sido os maiores desafios do Zoológico durante a pandemia?
Manter os cuidados com os animais ao mesmo tempo dos cuidados com as pessoas. Tentamos diminuir a quantidade de pessoas no mesmo local, fazendo escala, e reforçamos, o tempo todo, os cuidados que as pessoas devem ter, como usar a máscara e manter o distanciamento. E isso é difícil em um local de trabalho. Por mais que todos já saibam, no dia a dia, até por ser um ambiente de pessoas amigas com quem convivemos todos os dias, isso é um desafio. Estamos tomando um cuidado especial de nos manter atentos para verificar se algum animal apresenta algum sintoma que possa ser da covid. Até agora, nenhum apresentou.
Como o Zoológico pode influenciar seus visitantes para a conservação da fauna?
A coisa mais importante é a empatia. A gente não ama o que não conhece. É muito difícil alguém amar um pedaço de coral que nunca viu – nem na televisão. A pessoa nem sabe que existe. A partir do momento em que a pessoa vê um animal na TV ou mesmo ao vivo, isso toca muito, principalmente as crianças, que criam empatia por aquele ser que está na sua frente. As crianças criam empatia por aquele ser vivo, elas veem que esse ser se movimenta, que ele tem vida. A outra maneira de envolver as pessoas é relacionada à forma como apresentamos os animais no seu habitat natural, juntamente com os programas de educação ambiental. A intenção é fazer com que as pessoas entendam que esses animais estão no zoo dentro de um objetivo, não simplesmente para que elas vejam e tenham um momento de lazer. As pessoas precisam entender o porquê de esses animais estarem no zoo: estamos preservando vidas. São indivíduos que foram atropelados ou que têm algum problema e não podem mais voltar à natureza, ou ainda são espécies que precisam ser preservadas.
Qual a importância do zoo moderno na conservação de espécies ameaçadas de extinção?
Toda a concepção dos zoos modernos é diferente. Ele [o zoo moderno] não é um lugar para simplesmente exibir os animais, como se fosse um recinto quadrado para as pessoas simplesmente verem os animais. Hoje, tentamos colocar os animais em um local similar ao deles, em um ambiente que seja rico para eles manifestarem o seu comportamento natural e também onde eles estejam com mais bem-estar. Todos os recintos são ambientados de forma que os animais estejam bem. Esperamos contribuir com os programas de preservação de espécies ameaçadas e com a reprodução dos animais. Quanto melhor o animal se sentir dentro de determinado ambiente, mais ele vai se reproduzir e ter resultados positivos. Isso não quer dizer que queremos reproduzir todas as espécies que estão no zoo. Buscamos a reprodução de espécies de acordo com o nosso Plano de Populações.
Com informações da Agência Brasilia
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